Musicalidade indígena de Gean Ramos encanta público da Fligê

Transforme os seus medos em coragem! Show de Gean Ramos aconteceu na noite desta sexta-feira (12)

“Olha quem chegou: Pankararu! Olha quem chegou: Pankararu! Olha quem chegou: Pankararu!”. Assim começou a apresentação do cantor, compositor e violonista indígena Gean Ramos, ao saudar o público presente na terceira noite da Fligê. Os saberes e a musicalidade do povo Pankararu, do Sertão de Pernambuco, ecoou e encantou a plateia que vibrou com a potência vocal e identitária do artista.

“Ele preenche uma lacuna que existe hoje no campo da música que é a criticidade com poesia, com qualidade de letra e com uma música que toca o nosso coração. Eu não conhecia o trabalho dele, fiquei conhecendo aqui na Fligê e é um trabalho extraordinário. É um artista de grande qualidade que fala o que a gente precisa ouvir através da sua música”, opinou o professor universitário de Vitória da Conquista, Luis Rogério Cosme.

No palco da Fligê, Gean Ramos apresentou o show ‘Se Oru Obaí’. No setlist, canções que exaltam o empoderamento dos corpos indígenas e negros com uma música contemporânea, alicerçada em 20 anos de trajetória e totalmente imersa com as suas ancestralidades e, também, com as vivências adquiridas no território indígena Pankararu, onde vive.

Antes da apresentação, o artista contou o quanto é importante sua participação na Fligê. “É um momento de muita satisfação onde, de fato, a minha música está chegando a lugares mais distantes e isso é muito bom pra mim. Estar aqui trazendo a minha arte e a minha cultura pra somar é um momento realmente de muita satisfação e muita alegria”, revelou dizendo ser a primeira vez que faz um show na Chapada Diamantina.

No embalo dos seus cantos e sonoridade, Gean evidencia como conserva e resgata suas origens fazendo menção a importância da preservação ambiental, da memória e história dos povos originários e contra o racismo. “Não se intimide com racistas e fascistas. Transforme os seus medos em coragem”. Coragem, luta e resistência fazem parte da vida do artista miscigenado. Filho de mãe indígena e pai preto, ele mudou o curso de uma trajetória imposta pelo pensamento colonizador através da música.

Consciente da ancestralidade indígena e afrodescendente que carrega, o músico diz que estamos vivendo um tempo de reparação. “A história que a gente conhece sobre o nosso país e nossos ancestrais foi contada a partir de uma visão de pessoas que não sabiam o que eram ser indígenas ou ser negro. Esse evento traz uma discussão a cerca das ancestralidades e eu acho importante que nós sejamos protagonistas da nossa própria história”, completa.

Além do show autoral, o artista ainda presenteou o público com sua versatilidade musical para as composições “Onde Deus possa me ouvir”, de Vander Lee, “Espumas ao vento”, de Fagner e com “Luz do sol”, de Caetano Veloso. “Eu me apaixonei pelo show e vou pesquisar mais sobre ele porque é muito bom. E como professora, a gente fala sobre a visão que as pessoas têm dos índios e eu vou levar essa experiência e mostrar a riqueza que é a cultura indígena”, disse Débora Ribeiro, de Guajeru.

Texto Joana Rocha.  Fotos Vinícius Brito


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