Literatura ancestral: o cordel como expressão da memória

A programação da feira trouxe o cordel como expressão ancestral

O povo sertanejo é considerado o mais antigo do interior do Brasil, portanto, um povo que traz em si as ancestralidades e memórias de geração a geração. O cordel é uma expressão literária popular e a base da formação educacional desse povo. No século XIX, antes mesmo de ir para a escola, as crianças escutavam e aprendiam os cordéis contados pelos adultos, e com o tempo passavam a fazer os seus.

O cordel é uma poesia que nos transporta e é capaz de promover a alegria instantânea nas pessoas. Mas, para além disso, ele é um retrato documentado de fatos históricos, um veículo de educação e letramento e de resistência política. Para o cordelista José Walter, convidado da Fligê, o cordel foi uma nova forma de se comunicar que emergiu no século XIX a partir dos diversos falares que se estabeleceu na região.

São 500 anos de convivência cultural. Os diversos falares do Brasil foram se consolidando se formando a partir do fortalecimento da língua portuguesa, pertencente ao colonizador, sem deixar de existir a língua do povo negro e indígena. Pois a partir da tradição oral os povos sempre tiveram seu jeito de contar histórias e de fazer relatos.

A Fligê enalteceu o cordel como gênero literário durante sua programação. Na Casa Roxa, durante a tarde de sexta-feira (12), durante a sessão de Conversas Autorais, e durante a manhã de sábado (13),  na mesa Literatura de Cordel, às 11h, no Centro Cultural. Além das sessões literárias, estandes exibiam livretos e cordelistas alocados na feira.

Culturas indígenas – De acordo com José Walter, os povos indígenas faziam esses relatos com as danças, escritas rupestres e cantigas. Portanto, a cultura indígena é também parte constituinte do que hoje entendemos como cordel brasileiro. “Nós somos produtos dessa trilogia africana, portuguesa e indígena”, afirma Walter.

O cordel é ancestral, mas, ainda assim, está em processo de expansão para além do Nordeste brasileiro. Suas temáticas não se restringem apenas às estórias dos povos sertanejos, mas também aos elementos do cotidiano e, até mesmo, da internet, que não deixa de entrar nas rimas. Pode-se dizer que o cordel é também cibernético. Os versos estão nas páginas do Facebook e Instagram, com perfis dedicados ao gênero.

Como expressão cultural, ele também chegou às universidades e estudos acadêmicos. E, mesmo com todas as dificuldades e preconceitos, o cordel continua sendo resistência cultural e política.

O cordel resistiu à televisão, ao rádio e à internet. O cordel fez seus versos ecoarem em cada canto do Brasil com a mesma bravura e resiliência que remete ao povo sertanejo. O cordel é patrimônio cultural, ancestral e singular. Um viva a essa expressão popular e nordestina.

Texto Larissa Caldeira. Fotos Vinícius Brito.


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