Um mergulho na ancestralidade: Anelis Assumpção se apresenta na Fligê

Com o show “Oferenda” a artista encantou o público da Fligê com uma sonoridade potente e estético-política

Na noite de sexta-feira (12), a artista paulistana subiu ao palco principal da Fligê com seu “Oferenda: Anelis Assumpção canta Itamar”. Logo de início, tocou a música “Mergulho interior”, do seu álbum “Taurina” (2018).   “Vamos dar um mergulho interior, ancestral, circular e adiante”. Este foi o anúncio do que estava por vir. Com uma sonoridade de metais e tambores percussivos, os ancestrais de África foram evocados.

Cantora e compositora, Anelis traz uma sonoridade que mescla influências de dubreggaeafrobeatrap, música de cabarésamba e bossa nova. Um som pulsante e potente que ecoa aos ouvidos mais atentos como discurso político. A artista, que começou aos 18 anos como backing vocal do seu pai, o cantor e compositor Itamar Assumpção, traz no seu mais novo show “Oferenda” canções dele, como “Nega música” (1980).

Homem negro e politicamente engajado, Itamar sempre pautou temas relacionados ao combate ao racismo, as ancestralidades e a religiosidade da Umbanda, religião em que foi criado. Para Anelis, não é difícil fazer um show em que Itamar é enaltecido, pois ele está nela o tempo todo. “A gente fez uma adaptação. Eu sempre canto meu pai nos meus shows, ele é o maior responsável por eu fazer música, escrever e me entender como uma compositora no Brasil hoje. Pelo seu autodidatismo, pela sua resistência no mercado”, afirma a artista.

A resistência e a poesia são marcas da trajetória de Itamar e de Anelis, como se pôde ver durante o show “Oferenda”. Para o músico e professor universitário, João Bê, 43 anos, o show traz letras e arranjos que resgatam a rítmica e elementos sonoros africanos, além de trazer letras e poesias muito interessantes que abordam temas das ancestralidades.

Para Ingrid Sampaio, comerciante, 30 anos, o som de Anelis demonstra uma relação muito forte com a escrita e com a palavra e aborda temas como raça e política, o que agrega bastante ao tema da Fligê, “Literatura e Ancestralidades”.

A noite de sexta-feira (12) foi um bálsamo aos ouvidos, uma sonoridade estético-política como a de Anelis trouxe muitos discursos importantes para o interior do Brasil, no coração da Chapada Diamantina. Como declarou a artista em suas redes sociais, “Mucugê, terra de sesmeiros, está a se transformar por milhões de anos e suas humanidades de hoje, resistem ao fundamento de base. Cultura”. A cidade de Mucugê se torna espaço cultural de resistência e política. Ontem, foi mais um dia de rememorar os griôs de todos cantos e lugares através da música no show de Anelis.

 

Texto Larissa Caldeira. Fotos Thiago Gama.


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