Manto tupinambá é homenageado em expografia

Expografia E(m) trançados sonhos destaca o Manto Sagrado Tupinambá e está em exibição no Espaço Retomada

Nesta última quinta-feira (11/08), a história dos povos Indígenas Tupinambá de Olivença presenteou a programação da Fligê 2022. A expografia intitulada E(m) trançados sonhos, que aconteceu no Espaço Retomada, contou com a exposição do Manto Sagrado Tupinambá. O manto exposto na Fligê foi produzido por Glicélia Tupinambá, cuja inspiração foi advinda do encontro com projeções de imagens do manto e, após anos de pesquisa, os originais guardados em museus europeus.

A peça sagrada do povo Tupinambá poderia ser vista unicamente na Europa, o que acarretou em reivindicações por parte dos indígenas para que aquele símbolo de sua história pudesse ser repatriado. Como esse, pelo menos 10 mantos tupinambás registados nos séculos 16 e 17 estão conservados em museus europeus, fazendo com que os descendentes dos povos indígenas que os produziram no passado não tenham direito ao acesso a esses artefatos sagrados. Um primeiro exemplar foi disponibilizado para o Museu Nacional, porém, desapareceu devido ao incêndio que aconteceu em 2018 e destruiu o local.

A Fligê 2022, que traz como tema Literatura e Ancestralidade, buscou transmitir a espiritualidade e a importância histórica e sociocultural da indumentária em sua dimensão espiritual e sua contribuição artística. O espaço foi estruturado para permitir ao público uma experiência imersiva dentro do processo de criação e  representação do manto.

Glicélia Tupinambá

Glicélia Tupinambá reside na aldeia Serra do Padeiro, situada na Terra Indígena Tupinambá e foi a responsável pela confecção do manto. Muitos estudos e pesquisas envolveram o processo criativo e espiritual da criação da indumentária. Para Célia Tupinambá, como é mais conhecida, a história do Brasil começa antes da invasão e foi deveras vezes apagada da memória popular. “Reconstruir o manto é provocar também nas pessoas a lembrança de que nós temos nosso próprio patrimônio” relatou a tupinambá.

Em sua análise, é preciso reforçar a memória dos ancestrais e sua presença em todos os lugares em que for.  “Nós somos merecedores de conhecer nossa história”. Ainda ressaltou a importância feminina no caminho para chegar à expansão da ancestralidade indígena, ao compreender um papel essencial da mulher dentro da tribo. As mulheres indígenas estiveram à frente da  retomada, na melhoria da constituição familiar, na garantia e preservação do território e empenhando-se na luta pela demarcação e contra o marco temporal.

Segundo Glicélia, a sua relação com o manto é muito particular e vivida na intimidade dos saberes indígenas. “Eu sou guiada pelo manto. O manto para mim é uma entidade, um ser encantado, tem personalidade e vontade” explicou a tupinambá. Ao finalizar, afirmou ter sido convidada para uma viagem à Dinamarca para ouvir os mantos que lá se encontram.

Para o professor do curso de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), José Carlos Duarte, a representação do manto na expografia seria um resgate do manto original com a finalidade de tocar os povos atuais. “Quando  o Brasil comemorou 500 anos uma das anciãs tupinambás ao ver o manto, identificou ser aquele o manto do seu povo” destacou o educador.

A expografia, assinada pelo artista visual Vinícius Gil Purki, estará disponível para visitas durante toda a feira literária, até o domingo (14).

Texto Yasmin Luene. Fotos Thiago Gama.


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