A Galeria Arte & Memória recebe diferentes instalações artísticas escolhidas especialmente para a 5ª edição da Fligê
O clima ameno e a paisagem convidativa atraíram o público para a abertura das exposições na Fligê&Tu, na Galeria Arte&Memória, em Igatu, na primeira noite de atividades da Feira Literária de Mucugê, no dia 10 de agosto. Expositores, convidados e apreciadores da arte se encontraram para um bate-papo que exaltou a singularidade da vida e a importância do resgate da memória.
“Essa edição da Fligê representa a comemoração à vida, porque fomos nós que superamos um momento de crise profunda e comemoramos estarmos vivo aqui e agora, além dessa retomada de vida trazendo a literatura como eixo central desse trabalho”, disse o artista visual Marcos Zacaríades, fundador da galeria.
“A Literatura é vida e a gente tem o direito de viver nessa perspectiva do encontro e do diálogo. E, só é possível a gente entender a Literatura como esse caminho de vida, se o texto, se a imagem, as palavras, as esculturas chegarem até vocês”, destacou Ester Figueiredo, curadora da Fligê, ao lembrar que vivemos num tempo em que se tentam negar nossos direitos de leitura. “Tudo isso é para realçar que a gente tem direito a essa plenitude, a estar nesse lugar e a fincar os pés aqui e dizer esse lugar é nosso”, completou.
Exposições – Na Galeria Arte & Memória, os visitantes apreciam diferentes instalações artísticas escolhidas especialmente para a 5ª edição da Fligê. Com a curadoria de Marcos Zacaríades, que assina a expografia “Os pareceres do tempo: da Ancestralidade ao Fim do Ciclo”, a exposição fotográfica “Alumiar”, de Ricardo Sena e a coleção de fragmentos “Achados da história”, do Mestre Chicão, o público (re)conhece a história e rememora a questão ancestral de Igatu e as tradições do Terno das Almas.
“Eu posso falar que aqui eu construí minha trajetória de fotógrafo. Um dos elementos que me conduzem na fotografia é a fé e quando eu conheci Igatu não tinha o Terno das Almas, ele estava esquecido. Quando recebi o convite para conhecer o ritual, eu me deparei com um grande desafio de documentar essa manifestação. Os cânticos, as lamentações, tudo isso catalisa, faz uma sopa de emoções que me ajudou a desenvolver meu trabalho”, contou Sena.
Ao olhar sua imagem nas fotografias, a dona de casa e artesã Antônia Santana, falou da emoção de poder manter viva a história do Terno das Almas. “Estou muito feliz porque é um sonho realizado. Antes só existia na memória da gente, agora está aí para o mundo todo conhecer esse ritual de penitência e fé.” O ritual do Terno das Almas é uma manifestação religiosa, que acontece no período da Quaresma, em que os moradores das cidades percorrem as ruas durante a noite, com lençóis brancos para cantar e orar pelas almas dos mortos.
Para o Mestre Chicão, sua exposição marca a valorização de pessoas simples como ele, que ao longo da vida sempre estiveram em Igatu e contribuem com a memória do lugar através da arte. “Eu agradeço, pois me convidaram pra expor esse trabalho que realizo há 17 anos, colecionando pedras do garimpo, cacos de louças e outras coisas encontradas nas terras, trilhas e até em lagos”.
Instalada em meio às ruínas de habitações garimpeiras do Parque Histórico de Igatu, a Galeria Arte & Memória soma à beleza das paisagens da Chapada Diamantina ao mesclar história e cultura num único ambiente. “Eu estou impressionada! Não conhecia a galeria e é absolutamente perfeito esse lugar. É um dos lugares mais incríveis que eu já vi na minha vida. É muito bonito, a energia é diferente e nada melhor que um local como esse para ser espaço da Fligê, sem falar das exposições que valem muito a pena vir”, contou a pedagoga soteropolitana Lila Silva.
Texto: Joana Rocha | Fotos: Vinícius Brito.