Seu Loi e os100 anos de máscaras nas ruas de Mucugê

Fligê celebra famoso contador de histórias e tradição passada de pai para filho que segue mobilizando jovens

Cores, adereços e muita representatividade. Entre os fantasiados do desfile literário da Fligê, máscaras e mascarados se destacam. São conhecidos como “Os ‘cãos’ de Loi”, manifestação cultural que, neste ano, completa um século nas ruas.

Loi é Aloísio Paraguaçú, um dos moradores mais conhecidos de Mucugê. E não é por acaso. Em um breve papo com Seu Loi, as memórias diamantinas se concretizam diante dos nossos olhos. “O nome forte é Loi. É um pedaço do Aloísio, o centro do nome Aloísio tem Loi. É o nome mais forte que tem”, conta o senhor que inventa moda até para responder a sua própria idade: “eu tô com 70 e 14 anos”.

 

O contador de histórias é também criador de muitas delas, até mesmo de um santo, que só existe em Mucugê, o São Badoré, padroeiro dos sapateiros e substituto de Santo Antônio. Dentre essas memórias, ele conta que foi seu pai, em 1924, quem colocou o bloco de mascarados na rua pela primeira vez. Um século depois, a tradição segue viva graças à cultura viva que representa Seu Loi.

“O meu pai tinha o reisado de viola, era músico, tocava violino e tinha um conjunto que chamava Cisco. Ele não bebia, mas quando era dia de Natal, dia de Reis e Carnaval, tomava licor. Então, existiu o Reis de viola e, em uma dessas, ele criou o Reis do bicho”, lembra Seu Loi. O primeiro bicho foi o sapo: “E aí, os caras disseram assim, ó o sapo ali, não tá nem aguentando levantar mais. No outro ano, ele fez uma outra máscara, o Reis do leão”, continua.

Os desfiles iam se renovando com um animal diferente a cada ano, até que em 1953, Seu Loi assumiu a organização dos mascarados. “A cada ano eu fazia um bicho, no outro ano, já fazia outro. Mas aí, saíam os dois. No outro ano, eu fiz mais um, saíram três. Até que saíram trinta e seis bichos”, calcula o aposentado, orgulhoso da quantidade de anos que esteve à frente da movimentação.

“Tudo que eu fazia, o pessoal dizia assim: ‘mãe, eu vou sair nos Cãos de Loi’. ‘Mãe, eu vou querer a camisa pra batucada do Loi’, e era dona Linda que fazia as camisas”, recorda. Assim, da década de 1950 até os dias de hoje, o Reis dos Bichos se consolidou com vários nomes, mas sempre sob o comando de seu Loi. “Por isso, a tradição daqui é assim, o ‘Cãos de Loi’, os ‘Bichos de Loi’, o ‘Reis de Loi’, a batucada de Loi. É uma grande novidade que alegra o coração”, define o emblemático personagem da cidade de Mucugê.

A responsabilidade pela confecção das máscaras e pelos desfiles dos mascarados passou para a Prefeitura Municipal de Mucugê e agora segue com mais um “Paraguaçu”, Gilberto, sobrinho de seu Loi. Para o idoso, acompanhar os jovens de hoje renovando aquilo que aprendeu com o pai é mais uma estória para contar. “Parece que a gente tá participando. Quando eu vejo, eu me sinto lá no meio, entende? Como antes”, finaliza seu Loi.

Texto: Mariana Lacerda

Fotos: Gabriela Nascimento e Thiago Gama


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