Luna Vitrolira traz Pernambuco para Mucugê em performance arrebatadora

Artista de Recife que incorpora expressões artísticas plurais tinge noite da Fligê de vermelho-paixão em espetáculo contundente 

Luna Vitrolira tomou a Fligê de assalto na noite de sexta-feira (26), com sua presença vigorosa e intensa. Ao iniciar a performance, a plateia ainda estava vazia. À medida que entoava sua poesia certeira, o público se aglomerou à sua volta para, enfim, ser arrebatado.

A artista recifense iniciou a performance recitando “Vingança de Caboclo”, do poeta paraibano Zé da Luz, e emendou o verso com sua própria poesia metrificada. A textura sonora ficou sob o comando de Júnior do Jarro, multi-instrumentista.

Ela se apresentou na Fligê com um vestido semelhante a um caftan – vestimenta associada a culturas africanas – de um laranja vistoso, que combinava com a maquiagem que tingia suas pálpebras. Sobre a cabeça, um adereço que remete à exuberância do maracatu e outras tradições pernambucanas. O palco foi iluminado com as cores complementares verde e vermelho, cuja combinação gera um forte contraste e resulta em um efeito visualmente impactante.

Performance de Luna gerou um grande impacto no público da Fligê

O chão que Luna pisa é quente e sua tapeçaria colorida é cosida a partir de muitas referências. Com “Pernambuco embaixo dos pés e a mente na imensidão”, ela é uma artista múltipla. Escritora, compositora, performer, educadora, formada em Letras e mestre em Teoria da Literatura, “sou geminiana, filha de Iansã, sou do vento. Acredito que eu seja uma multiplicadora do que eu acredito, na militância, na arte e na cultura”, afirmou.

Finalista do prêmio Jabuti 2019 com o livro “Aquenda: o amor às vezes é isso”, Luna elegeu a Fligê para lançar em primeira mão seu segundo livro, “Memória tem águas espessas”. Sua primeira publicação, que destaca o tema da violência contra a mulher, virou disco, filme e show, que ela apresentou na Feira Literária de Mucugê na sexta-feira (26).

Luna Vitrolira situa sua criação artística em Pernambuco, com a riqueza e a variedade de expressões artísticas que convivem e dialogam no estado. “Eu nasci em Recife, onde há o movimento de escritores marginais e independentes, o verso livre, o verso metrificado, o verso improvisado, então eu me vejo constituída dessa diversidade e dessa multiplicidade de formas poéticas”. Ela também cita as tradições populares como o Caboclo de Lança, o Maracatu Rural, os Boizinhos e o Cavalo-Marinho como constituintes de sua identidade como artista.

“A poesia é a espinha dorsal de minha vida”, descreveu. “Eu uso a palavra como uma forma de acordar consciências, de acolher e de propagar e multiplicar amor e cura”. Com sua performance, a artista lançou as pontes que uniram Pernambuco e Chapada Diamantina na Fligê 2024.

Júnior do Jarro, multi-instrumentista, arrematou o encontro entre Recife e Chapada Diamantina. Ele é conterrâneo de Luna, mas mora em Ibicoara, na região da Chapada Diamantina, há quatro anos.

Para construir o que chamou de “alegoria sonora” que pudesse “potencializar a poesia de Luna, que é muito visceral, muito impactante”, ele lançou mão de elementos de matrizes africanas, como o ijexá e o afoxé, utilizando instrumentos de percussão, como o atabaque, agogô e surdo, além de uma rabeca, “como alegoria dessa coisa densa, dessa coisa triste, que se relaciona com o nosso aboio”, explicou. “A gente conseguiu chegar num lugar comum, de forma que a sonoridade ali trabalhada ficou em coerência com a potência da poesia”

A intensidade proposta pela dupla surtiu efeito no público. Edu Biro, 33 anos, natural de Ibicoara, afirmou que a performance acabou sendo melhor do que ele esperava. “A gente já estava com uma expectativa, mas estar aqui com ela declamando e interpretando sua obra está sendo fantástica, muito pulsante”.

Luiza Del Rey, 31 anos, contou que se emocionou com a apresentação. “Foi lindo demais! Eu estou saindo daqui chorando de emoção. Não conhecia a obra de Luna, então foi uma surpresa muito grande, e saio daqui emocionada”.

A combinação da poesia de Luna Vitrolira com a sonoridade de Júnior do Jarro encantou e ressoou com as tradições e a cultura local, criando um diálogo vibrante entre Recife e Chapada Diamantina.

A 7ª edição Feira Literária Mucugê, realizada os dias 24 a 28 de julho, conta com o apoio do Governo Federal, do Governo do Estado da Bahia por meio da Secretaria Estadual da Educação e Superintendência de Fomento ao Turismo – Sufotur, com parceria da Secult/Fundação Pedro Calmon e coletivos culturais.

Texto: Érika Camargo

Fotos: Thiago Gama


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