Literatura e Artes Plásticas se encontram na Fligê 2024

Dia 27 de julho, às 11h, no Centro Cultural aconteceu o Rota da Palavra III, “Literatura e Artes Plásticas: arquivo literário diamantino e suas formas”, com o artista Marcos Zacariades, com a mediação de Elton Becker

No Centro Cultural, às 11h, no dia 27 de julho, tivemos na Fligê 2024, o Rota da Palavra III, “Literatura e Artes Plásticas: arquivo literário diamantino e suas formas”, com o artista e curador da Fligê&Tu, Marcos Zacariades. A mediação da conversa sobre as relações entre literatura da Chapada Diamantina e artes plásticas, especificamente, as obras de arte feitas por Zacariades, foi mediada por Elton Becker.

Marcos Zacariades é um artista baiano, nascido em Salvador, que vive e trabalha na cidade de Igatu, na Chapada Diamantina, onde mantém a Galeria Arte & Memória, território da Fligê&Tu. A conversa tratou das relações entre literatura de autores da Chapada Diamantina como Walfrido Moraes, Herbeto Sales e Eurico Antunes Costa.

As formas, relevos e possibilidades da Chapada Diamantina são inspiração para as obras de Zacariades. A obra “Carta de ABC” (2013) foi inspirada no personagem Zé de Peixoto, homem preto e garimpeiro, que aparece na obra de Herbeto Sales. Na história, Zé de Peixoto é obrigado a estudar numa carta de ABC e trabalhar exaustivamente em um garimpo. A instalação do artista foi composta por 80 máquinas de escrever que “contam” a história do personagem.

O artista desenvolve seu trabalho a partir da observação social e da pesquisa antropológica dos lugares por onde transita e interage. Seu trabalho aborda a relação do homem com a natureza e seus arquétipos pessoais, e as relações de poder, a memória coletiva e as questões sociais são temas recorrentes em suas obras. Exemplo disso são as obras “O Tempo Espelhado”, que rememora a obra de Paulo Freire e a situação política do Brasil em meio à ascensão da extrema direita. A necropolítica do estado e o obscurantismo são representados pela instalação de coroas fúnebres pintadas de preto num espaço escuro. Depois, as obras sofrem nova intervenção, como algo simbólico de que a educação salva, e a instalação de coroas fúnebres ganha cores e o público passa a poder escrever frases e mensagens na obra.

A música também inspira Marcos Zacariades. A obra “Lugar Tenente” faz referência a canção “Disparada”, do compositor Geraldo Vandré, mas não somente, já que a obra é feita com uma raiz de jatobá da Chapada Diamantina e remete a uma perna de boi, se referindo à expansão da agropecuária na região.

A utilização de materiais naturais e elementos de uso cotidiano estão sempre presentes na concepção e na construção das instalações do artista. Restos de madeiras de lei, proveniente da derrubada e da queimada de florestas da Chapada, são a base das suas esculturas e objetos. Suas videoinstalações trazem imagens e ingredientes que atestam o caráter social do seu trabalho. É possível notar isso na obra “Banquete de Migalhas” (2024) que trata da repulsa, e daquilo que não se digere, senão vomita. E na obra “O Silêncio das Bombas” (2005) que se refere à bomba de Hiroshima e aos 60 anos da tragédia.

A 7ª edição Feira Literária Mucugê, realizada os dias 24 a 28 de julho, conta com o apoio do Governo Federal, do Governo do Estado da Bahia por meio da Secretaria Estadual da Educação e Superintendência de Fomento ao Turismo – Sufotur, com parceria da Secult/Fundação Pedro Calmon e coletivos culturais.

Texto: Larissa Caldeira
Fotógrafo: Igor Chaves

 


Galeria de Fotos