Itamar Vieira Júnior e Rubel falam sobre “Torto Arado”

Conversa Literária foi mediada pela professora Jamile Borges e contou com performance musical de Rubel
A convergência entre música e literatura pode criar encontros extraordinários que capturam a essência de grandes obras e emocionam profundamente o público. Foi o que aconteceu, nesta quinta-feira (26/07), na Conversa Literária “Palavras em Composições” com o escritor homenageado da Fligê 2024, Itamar Vieira Júnior e o cantor Rubel. O encontro aconteceu na praça dos Garimpeiros, foi mediado pela professora Jamile Borges e teve lotação máxima.
O encontro discutiu a obra “Torto Arado”, romance escrito por Itamar Vieira Júnior, que tempos depois foi adaptado em música pelo cantor Rubel. Durante o encontro, Itamar e Rubel discutiram a forma como as narrativas literárias e as letras de músicas se entrelaçam, expondo suas influências mútuas e conexões.
Nascido em Salvador em 1979, Itamar Vieira Júnior viveu sua adolescência em Pernambuco e, logo depois, na cidade de São Luís. Formou-se em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Prosseguiu seus estudos na UFBA, onde concluiu o mestrado e o doutorado. Inspirado pelas vivências obtidas durante suas pesquisas na Chapada Diamantina, especialmente entre as comunidades quilombolas, publicou seu romance de estreia, “Torto Arado”. A obra conta a história de uma família que vive em uma fazenda em condições análogas à escravidão. Em 17 de outubro de 2018, o livro foi agraciado com o Prémio LeYa, e, em 2024, recebeu o Prix Montluc Résistance et Liberté.
Rubel é cantor, compositor e roteirista brasileiro. Ganhou destaque no cenário musical com suas canções que misturam elementos de folk, MPB e indie. Rubel também trabalhou na roteirização de programas de TV como “Mister Brau” e “Lady Night”. Em 2023, o artista lançou o álbum “As Palavras, Vol. 1 & 2” e roteirizou a minissérie “Tá Tudo Certo” para a plataforma Disney+.
A singularidade de “Torto Arado” foi um ponto central da discussão. A obra se destaca por tratar questões sociais complexas e e efeitos deixados pela escravidão, não por meio de uma abordagem sociológica, mas através de uma narrativa envolvente. A combinação de uma grande história com personagens cativantes e temas sociais, políticos e históricos é destacada como uma conquista notável. A mesa destacou como Itamar conseguiu unir ficção e realidade de maneira excepcional, refletindo a paixão pela literatura e a importância dessa abordagem na obra.
Na ocasião, também foi discutida a adaptação feita por Rubel. O cantor explicou que a música foi desenvolvida como uma extensão da narrativa, ajudando a aprofundar a experiência emocional do livro. Rubel enfatizou que a composição não apenas complementa a história, mas também enriquece a compreensão dos temas tratados. “A música foi criada para refletir a atmosfera e os sentimentos evocados pelos personagens e pelos eventos da trama, proporcionando uma camada adicional de imersão para os leitores e ouvintes”, explica o cantor. Em resposta à adaptação, Itamar relatou que tem muitas coisas que ele não sabia e foram reveladas durante o encontro.
Numa noite fria em Mucugê, a conversa entre Itamar e Rubel aqueceu os corações do público. Lara de Sousa Marques, servidora pública e conhecedora do trabalho de ambos, participou do encontro e ressaltou o impacto que o sucesso dos dois tem. Para ela, o êxito deles é tão marcante porque conseguem tocar as pessoas e criar identificação, não necessariamente com os personagens, mas com a forma como apresentam o Brasil. “Acredito que o espaço da Fligê é talvez o único onde podemos viver essa experiência. Foi a primeira vez que os dois estiveram juntos ali e se encontraram, oferecendo ao público a oportunidade de testemunhar esse encontro inédito. Ver o quanto um estava encantado com o outro e a troca de experiências foi, sem dúvida, muito enriquecedor.”
Jamile Borges, mediadora da conversa, relata que a mesa foi fantástica, pois era um encontro muito esperado e celebrado entre esses dois artistas. “Eles são extraordinários, cada um em seu campo e em seu tempo, mas que tiveram um momento de convergência a partir dessa composição esperada na grande obra que é Torto Arado”.
O encontro alternou entre perguntas e respostas, explorando a profunda paixão pela palavra e pela escrita compartilhada por todos os participantes que permeou toda a conversa. O momento terminou com uma performance musical de Rubel. Na ocasião ele cantou e tocou as músicas “Torto Arado” e “Partilhar”. O impacto da obra discutida foi sentido por muitos leitores, incluindo os participantes da mesa.
A 7ª edição Feira Literária Mucugê, realizada os dias 24 a 28 de julho, conta com o apoio do Governo Federal, do Governo do Estado da Bahia por meio da Secretaria Estadual da Educação e Superintendência de Fomento ao Turismo – Sufotur, com parceria da Secult/Fundação Pedro Calmon e coletivos culturais.
Texto: Vitor Barboza
Fotos: Igor Chaves

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