Distopias e Meio Ambiente em Ficção: A Reflexão de Manoel Herzog

Manoel Herzog explora futuros distópicos e crises ambientais, destacando a importância da literatura na crítica social durante a Feira Literária de Mucugê

A mesa “Distopias e Meio Ambiente em Ficção” trouxe o escritor Manoel Herzog para uma conversa mediada por Rousyana Araújo. O evento teve como foco o livro “A Língua Submersa”, lançado em agosto de 2023, que explora um futuro pós-catástrofe ambiental na América Latina.

“A Língua Submersa” imagina um cenário onde apenas uma região sobreviveu ao avanço das águas: Bolivana-Zumbi. Nessa sociedade distópica, a classe média remanescente vive sob o comando evangélico e o domínio chinês, com a obrigação de restaurar a natureza. Herzog descreve um mundo onde a moeda se chama bênção, e a desobediência às leis ambientais é punida com a morte. A língua portuguesa foi proibida, substituída pelo portunhol, transformando o português na “língua submersa”.
Durante a mesa, Herzog destacou: “Uma reflexão sobre a finitude dos recursos naturais que estamos vivendo não é uma distopia, mas uma constatação de uma realidade que está aí”. Ele também mencionou que a realidade frequentemente supera a ficção, sendo muitas vezes mais absurda do que qualquer cenário distópico que ele pudesse imaginar.
Manoel Herzog, conhecido por seus trabalhos que mesclam ficção científica e preocupações ambientais, criou em “A Língua Submersa” uma crítica contundente a um modelo de sociedade que prioriza o lucro e interesses individuais, que resulta em um colapso ambiental global. A América Latina, sob a nova ordem comandada pela China e influenciada pela Igreja evangélica, é um reflexo distorcido e exagerado de preocupações atuais.
A discussão também abordou a desconstituição de impérios e a decadência do império capitalista norte-americano. Herzog observou que estamos possivelmente nos anos finais de um império calcado no consumo, que pode ser substituído por novas formas de dominação.
Amanda Ribeiro, 15 anos, estudante do 1° ano do ensino médio da Escola Maria Bernarda de Itaberaba, expressou sua admiração pelo ponto de vista e argumentação de Herzog: “A gente veio aqui com a escola, estamos aqui desde quarta e assistindo todas as palestras, vendo os estandes. Assisti a palestra de Manuel, gostei bastante do ponto de vista dele, da argumentação dele sobre temas relevantes, me interessei e comprei o livro ‘A Língua Submersa'”.
Walter Takemoto, professor, também compartilhou suas impressões: “É a terceira vez que eu participo da Fligê, um dos eventos que eu considero mais importante que ocorre na Bahia em relação à cultura, à arte, literatura e à formação do público leitor, não só aqui da região da Chapada, mas como da Bahia toda. A palestra do Herzog, agora de manhã, foi fundamental, não só por discutir a sua obra, que é importante, mas por trazer temas fundamentais do nosso tempo para a discussão dos impactos futuros”.
No final do evento, Herzog leu um trecho impactante do final de seu livro: “Você está morto como tudo, sucumbido na ilusão do poder, concedido a um patriarcado estúpido por uma natureza impiedosa, mas eu vou escrever. A sua vida não dá um livro, mas o meu livro vai te dar uma vida. (…) E vou escrever em português para que a língua siga viva”.
Após a leitura, Herzog se dirigiu para a Tenda Literária, onde autografou livros e tirou fotos com os leitores. A fila para autógrafos era extensa, demonstrando o impacto de suas palavras e a curiosidade despertada por suas ideias.
A mesa “Distopias e Meio Ambiente em Ficção” não apenas ofereceu uma visão intrigante de um futuro possível, mas também instigou uma reflexão profunda sobre as consequências ambientais das ações humanas e o papel da literatura em abordar essas questões.

A 7ª edição Feira Literária Mucugê, realizada os dias 24 a 28 de julho, conta com o apoio do Governo Federal, do Governo do Estado da Bahia por meio da Secretaria Estadual da Educação e Superintendência de Fomento ao Turismo – Sufotur, com parceria da Secult/Fundação Pedro Calmon e coletivos culturais.

Texto: Sara Dutra
Fotos: Thiago Gama

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