Ciência, saber popular e experiência no parir

Segunda mesa da Fligê traz conversas sobre parto e sabedorias ancestrais 

O que dizer sobre o parto? O momento marca o nascimento, a chegada da vida e o fim de uma gestação, que normalmente, ocorre de duas formas, parto normal e cesárea, como são popularmente conhecidos. E como falar sobre o momento do parto na perspectiva da temática central abordada na Feira Literária de Mucugê? A Fligê se propõe a mesclar literatura com diferentes linguagens e, mais uma vez, isso foi perceptível na mesa “Escrever Parir”, que abordou as narrativas e correspondências entre vidas e escritas.

Com mediação de Hewelin Fernandes, diretora do curta-metragem “Áurea” e, as presenças do médico obstetra Áureo Augusto Caribé de Azevedo e da escritora Fernanda Carvalho, os participantes narraram memórias e compartilharam suas experiências no parir. “Eu quero começar honrando todas as mulheres que vieram antes de mim, minhas avós, minha mãe e, principalmente, as parteiras Dona Áurea, Dona Maria e Natália, do Vale do Capão; Dona Ilda, de Seabra e Marilídia, de Igatu, assim como muitas outras parteiras, que são o símbolo da ancestralidade”, disse Hewelin.

No filme “Áurea”, ela reuniu as histórias de vida de Dr. Áureo e da Dona Áurea, que se encontraram para celebrar, a realização de mais de uma centena de partos, na região do Vale do Capão, na Chapada Diamantina, através do pensamento científico do médico e do conhecimento tradicional da parteira. O curta-metragem faz parte da programação, com exibição na FligêCine.

“Eu acho o conhecimento científico muito, muito importante, porém, a gente tem que entender que o ser humano não pode ser reduzido a uma teoria, como é o caso da teoria científica. O ser humano é muito mais que isso, então, eu não posso considerar que porque eu conheço muita coisa, eu conheço tudo”, revelou o médico, ao contar que se sentia na mesma altura daquelas mulheres que realizavam os partos no Vale do Capão. “Elas acompanhavam partos a mais tempo do que eu tinha de idade e elas sabiam muitas coisas. Mas, nós ensinamos uns aos outros”, completou.

A fusão dessas duas sabedorias também permeiam as memórias da jornalista Fernanda Carvalho. Depois de participar da Fligê como assessora de comunicação de alguns escritores, ela volta ao evento como autora de “A Luz da Maternidade”, para contar sobre a escrita do seu livro que revela o legado de outro médico baiano que defendeu o parto sem dor. “O livro foi difícil de escrever, porque ele nasceu de uma dívida de gratidão ao médico Gerson de Barros Mascarenhas, que eu conheci quando estava grávida do meu primeiro filho”.

Por ocasião da mesa, a escritora fez questão de compartilhar o potencial que a Feira exerce nas pessoas que frequentam o evento. “Na última edição da Fligê, eu trabalhava divulgando livros e aquilo ali já era uma forma que o universo estava movendo de me fazer nascer escritora. Eu estava com aquele livro dentro de mim abortado e hoje eu estou aqui na Fligê com o meu livro. Aqui, a gente não faz nascer só leitores, a gente também faz brotar escritores”, conclui.

Confira a Mesa no canal da Fligê no YouTube.

Texto Joana Rocha. Fotos Vinícius Brito


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