Casarão das Letras: narrativas de dendê e revivências residuais de memórias distantes

Convidados da mesa relatam a importância de espaços literários como a Fligê 

A Conversa Literária “Narrativas de dendê e residuais de memórias distantes” foi realizada no sábado (27) e composta pelos professores e escritores Gildeci de Oliveira Leite e Thiago Martins Prado, com a mediação de Maiara Macedo. A conversa destacou pontos de narrativas que representam a Bahia.

“Se tem dendê, tem Axé”, afirmou o escritor Gildeci ao iniciar a conversa, referindo-se às características presentes em seu livro “A Casa do Mistério ou a Casa do Renascimento”, lançado em 2023, em Angola, pela editora Mayamba. O livro tem como personagem principal Exu. Gildeci explicou: “ele vai denunciar uma série de atrocidades do racismo, tudo isso com muito riso, com muita felicidade, porque Exu, acima de tudo, é Aiyó. Aiyó quer dizer alegria, que por coincidência é meu nome litúrgico. Aiyó Inã quer dizer Alegria do Fogo, do Ilê Ashipá, que é o guerreiro de todos ancestrais”, relatou o professor.

Já o poeta Thiago Martins, em seus livros “A Reutilização das Pedras” e “A Inutilidade das Parcas”, traz algumas discussões sobre as memórias, questionando se elas podem aprisionar ou se são capazes de reescrever o tempo.

Thiago enxerga a Fligê como um espaço de visibilidade, pois “a Fligê desloca uma lógica que predominantemente e hegemonicamente se fazia entre Rio e São Paulo, exatamente para escritores que estão mostrando o seu valor e seu reconhecimento aqui também no território norte-nordeste.” Desse modo, a feira literária acaba fortalecendo editoras locais, dando o suporte necessário para alcançar o público, além de possibilitar que crianças e adolescentes mantenham contato com os livros.

Projetos como a Fligê são importantes para o fortalecimento da cultura e educação, pois promovem um contato direto com autores locais, além de oferecer visibilidade nacional. O professor Gildeci relata que sentiu muito a falta de espaços como esse na sua juventude: “Eu não vivi com livros na minha casa, mas vivi com a obrigatoriedade de aproveitar todas as oportunidades que eles me deram. Mas, se eu tivesse talvez esse acesso a livros, através de feiras literárias, de uma biblioteca pessoal, o que é raro, até porque isso também é um custo, eu talvez tivesse sido melhor do que eu sou hoje”, explicou.

Além de favorecer a educação, a feira também contribui para o fortalecimento da economia local. Thiago também se sente responsável pela transformação do cenário do país por meio da literatura e quer que outras pessoas, assim como ele, possam ter acesso a espaços como esses e ocupem mesas de conversas.

Repórter: Raila Costa

Fotos: Lua Ife


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