O ateliê do artista Silvio Jessé foi a casa parceira da Fligê, local onde aconteceram inúmeros eventos como lançamento de livros, bate papo com autores, rodas de conversas e palestras. O espaço foi lugar de encontro, de descontração e muito aprendizado. Autores lançaram livros e participaram de rodas de conversa. Mulheres negras na política e caminhos para transformação social por meio da cultura foram alguns dos temas abordados.
Autores lançam livros e participam de roda de conversa na Casa Parceira Ateliê Silvio Jessé
Embora assombre mentes pelo país, a essência do Comunismo é a de repensar estruturas em busca de melhores condições para todos. Esse também foi o fio condutor das discussões resultantes da Roda de Conversa e Lançamento de Livros na Casa Parceira Ateliê Silvio Jessé, na manhã de sábado (19).
Com a participação dos autores Olívia Santana (“Mulher preta na política”), Javier Alafaya (“Arte, política cultural e cidadania”) e Nem Tosco Todo (“Estamos mais do que vivos”), a programação contou também com a presença do historiador e deputado estadual do PT, José Raimundo, para comentar a obra “Armênio Guedes, um comunista singular” de Mário Menin, que não pode estar presente.
No encontro, a também deputada estadual do PCdoB e pedagoga, Olívia Santana, lançou o seu primeiro livro. A obra compartilha a sua própria trajetória, mas ilustra uma experiência que não pode ser pensada de maneira individual. “Eu também falo sobre os desafios que é ser mulher preta e ousar se colocar no espaço de representação política. É um caminho que vem sendo desbravado”, relatou.
Foi somente em 2018, que a Bahia – berço da maior comunidade negra fora da África – elegeu Olívia Santana, sua primeira deputada estadual preta. “Nós somos muito poucas em termos nacionais e a Bahia me ter como única parlamentar na Assembleia Legislativa diz muito sobre o tamanho do fosso que separa as mulheres pretas dos espaços de representação democráticos”, ressaltou a deputada e autora.
Ela enfatiza, ainda, que a democracia não será plena sem a presença das mulheres, mulheres pretas e mulheres indígenas, que são os segmentos mais excluídos da estrutura socioeconômica, política e cultural. “Precisamos que a cidadania participe da política”, defendeu Olívia Santana.
Para o autor Javier Alafaya, essa mudança passa, sobretudo, pela cultura, como ferramenta primordial de transformação da sociedade. “Sempre entendi que a ação política deve estar articulada com a ação cultural, para que a nossa transformação seja mais profunda, mais completa, em valores”, pontuou. Em seu livro, o arquiteto e ex-deputado reúne artigos de outros autores, reportagens sobre artistas como Tom Jobim, Grande Otelo, Ariano Suassuna e Jorge Amado, além de uma entrevista com Jorge Mautner e artigos próprios sobre política cultural e cidades.
“O livro é parte do esforço de pautar a cultura libertária, democrática e com a estética livre, criativa, avançada e progressista como um dos eixos de desenvolvimento do país”, descreveu o autor. De acordo com ele, a obra, publicada em 2022, representa uma reação no auge da presença das políticas mais conservadoras e repressivas no poder no país, do ponto de vista cultural e ideológico. “É para ajudar nesse caminho do desenvolvimento mais global, que não seja só crescimento econômico. Crescer economicamente e se desenvolver humanisticamente”, refletiu.
Um dos pioneiros no estudo da classe operária na Bahia, o deputado José Raimundo, caracterizou o livro “Armênio Guedes, um comunista singular” como um mosaico que, a partir da memória desse filho da cidade de Mucugê, retrata o Partido Comunista do Brasil. “Ninguém pode falar em história do Brasil e da Bahia ou escrever sobre cultura e literatura, sem conhecer a trajetória dos comunistas brasileiros”, destacou o historiador.
Assim, ele fez um panorama com nomes do cinema, como Serguei Eisenstein, Valter da Silveira, Guido Araújo, Glauber Rocha e Caetano Veloso, que poucos sabem que foi cineasta no início da carreira. Na literatura, citou expoentes do Realismo Socialista, representado por Jorge Amado e Graciliano Ramos, e do Surrealismo, com os exemplos de André Breton, Leon Trótski, Nise da Silveira e Rachel de Queiroz.
O deputado lembrou também da contribuição de intelectuais comunistas nas mais variadas áreas do conhecimento e da ciência. “Esse encontro é importante para repensar quais são as estratégias do combate à desigualdade no Brasil e, nesse debate, os comunistas deram uma extraordinária contribuição”, concluiu.
Casa Silvio Jessé recebe projeto de turismo cultural e literário na Chapada Diamantina
Literatura, música, arte e, também, turismo. A Fligê, em parceria com a Visu – Turismo de Experiência, apresentou ao público desta sexta edição da Feira Literária de Mucugê o projeto de turismo cultural e literário que vai aumentar ainda mais a imersão e vivência únicas que o evento proporciona anualmente aos seus visitantes.
A proposta é trazer o leitor para a locação livro, reconhecendo os territórios, convivendo com a comunidade local, vivendo no ambiente em que personagens e histórias são contadas pelos autores, proporcionando um contato ainda mais enriquecedor com a literatura.
Quem está à frente do projeto são os irmãos paraibanos Tiago e Pablo Buriti, turismólogos que têm como lema “não visite, viva!”.
“É isso de levar as pessoas não só para tirar fotos dos locais turísticos, mas para viver o que aquela comunidade produz, vive e tem a oferecer. Isso engrandece a experiência tanto para as pessoas que vão quanto para os moradores dessas localidades. Passa a ser um turismo com emoção”, destaca Pablo Buriti.
“A gente acredita muito que o Visu ele é transformador social através do turismo. A gente tem tido resultados muito bons, muito expressivos, especialmente quando pensamos na economia circular que esse tipo de turismo proporciona”, completa Tiago Buriti.
Os irmãos já desenvolvem expedições e vivências em outras partes do país, especialmente no sertão nordestino e norte mineiro. Umas delas é a expedição no Cariri Paraibano, que já está em 13ª edição, e tem inspiração em obras de Ariano Suassuna, como “Auto da Compadecida”.
Outra expedição lançada recentemente é “De Rosa a Francisco”, inspirada na vida e obra de Guimarães Rosa. “A gente começa em Cordisburgo, cidade onde o Guimarães nasceu e caminhamos sentido ao rio São Francisco, percorrendo todo o norte de Minas Gerais”, explica Tiago.
Em Mucugê, o projeto prevê uma vivência, tendo a cidade como base de dormida dos participantes, e percorrendo cenários e locações por toda a Chapada Diamantina.
Tiago e Pablo contam que já iniciaram o reconhecimento do território literário da região e que percorreram mais de 700 quilômetros, até agora, para montar o roteiro, que deve ser lançado ano que vem, coincidindo o final da experiência turística com o início da Fligê de 2024.
???????? A Fligê – Literatura e Música, realizada entre os dias 16 a 20 de agosto em Mucugê, na Chapada Diamantina, Bahia, é patrocinada pelo Governo do Estado da Bahia, por meio de emendas parlamentares vinculadas, com parcerias institucionais, de coletivos culturais da região e com apoio do poder público local.
Texto: Mariana Lacerda e Débora Silveira
Fotos: Thiago Gama e Vinícius Brito