Em conversa emocionante, Cacique Juvenal Payayá, do Povo indígena Papayá, destacou a literatura como uma gambiarra capaz de emitir luz para as pessoas
O terceiro dia da Fligê contou com a programação da Rota da Palavra com o tema “Retomada da Terra e da Palavra: Juvenal Payayá e a literatura de autoria indígena na Chapada Diamantina”. O evento foi realizado na manhã de sexta-feira (26) e teve a participação do escritor e Cacique do Povo indígena Papayá, Juvenal Papayá e mediação do produtor cultural Alan Lobo.
Durante a conversa, Juvenal destacou a literatura como uma gambiarra capaz de emitir luz para as pessoas e que, através dela, é possível obter o conhecimento da história. “Participar da Fligê é um passo importante para mostrar às pessoas que vêm de fora o que se faz na Chapada. O evento é muito importante para os escritores que ainda não são reconhecidos”, afirmou o Cacique.
Juvenal também recitou um poema de um dos seus livros e contou que foi incentivado pelo pai a ler desde pequeno. O escritor explicou como a oralidade e a literatura se entrelaçam em suas obras, por ser a literatura indígena uma forma de contar a história dos povos originários.
Além disso, Alan Lobo destacou como a literatura dos povos indígenas trouxe a retomada da palavra desses povos que foram silenciados por muito tempo no Brasil. “A Fligê é muito importante para dar visibilidade a literatura que é feita na Chapada, especialmente a literatura indígena. Essa conversa com o Cacique Juvenal foi muito importante para falar dos povos originários e dar o real valor a literatura indígena produzida na Chapada Diamantina”, explicou Alan.
Já para a professora Larissa Pereira, que veio de Itabuna para participar da Feira, a conversa foi importante para se dar valor à própria história. “Fico emocionada pela profundidade das palavras. É muito importante ouvir os povos originários falando com tanta propriedade da palavra, da literatura, precisamos conhecer a nossa história, me sinto agraciada por estar aqui”, afirmou a professora.
O Cacique Juvenal Payaya é escritor, poeta, romancista, desenhista e plantador de sementes e mudas nativas da Caatinga e do Cerrado. Nasceu em 04 de abril de 1945 em uma aldeia na Chapada Diamantina, onde viveu sua primeira infância, descalço, andando pelas serras, banhando no rio e ajudando na roça dos pais. Formou-se em Economia na UEFS em 1980, concluiu o curso de Educação na UNEB em 1990, e se especializou em Administração na FACCEBA em 2003. Foi professor do Estado da Bahia, tendo lecionado em diversas cidades e escolas.
Na década de 1980, abraça a causa indígena e a luta pela afirmação do Povo Indígena Payayá, pelo qual é convidado a assumir sua chefia simbólica, tornando-se Cacique em 2010, ano em que ajuda a fundar o movimento indígena MUPOIBA – Movimento dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia e o Movimento Associativo Indígena Payayá (MAIP). Em 2023, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UNEB. Dedicou-se por mais de 25 anos ao ramo editorial, em especial nas editoras Atica e Scipione. Publicou 10 livros, entre romances, contos, crônicas e poesia.
A 7ª edição Feira Literária Mucugê, realizada os dias 24 a 28 de julho, conta com o apoio do Governo Federal, do Governo do Estado da Bahia por meio da Secretaria Estadual da Educação e Superintendência de Fomento ao Turismo – Sufotur, com parceria da Secult/Fundação Pedro Calmon e coletivos culturais.
Texto: Rebeca Spínola
Fotos: Thiago Gama