No rastro do rio, mata adentro: escritoras exploram natureza e memória na Fligê

Escritoras compartilharam experiências pessoais e criativas, revelando como a natureza e os cenários do sertão e da Chapada atravessam suas narrativas.

Assim como as águas se encontram, a literatura e sua pluralidade de vozes e experiências se atravessam na Feira Literária de Mucugê. A mesa “No rastro do rio, mata adentro” reuniu as escritoras Mariana Paim, Vitória Maria Matos e Magna Cerqueira para explorar o conceito de natureza, suas memórias e analogias na criação literária. A conversa, mediada pela professora Clélia Gomes, aconteceu na tarde da última sexta-feira, 15.

Para introduzir a temática da mesa, a professora Clélia utilizou o “rastro” dos rios como uma metáfora para representar uma espécie de fio condutor para as narrativas. A doutora em Literatura e autora de “Serei_as: ou ensaio de um mergulho no âncora”, “Lugar Comum” e “Trópicos”, Mariana Paim, iniciou a discussão a partir da ideia de intermitência dos rios no Nordeste e seus períodos de cheias e vazantes, associando-os ao processo criativo da escrita.

Para além disso, Paim também ressaltou a importância de feiras literárias no interior do estado, como a Fligê. “É fundamental e mágico estar aqui, estou muito emocionada, pois sei como é importante descentralizar os lugares de produção e visibilidade da literatura, já que sou uma mulher de uma região interiorana”, declarou Mariana.

As perspectivas acerca da influência dos cenários se diferem à medida que a natureza se manifesta nas características diversas dos biomas. A escritora Vitória Maria Matos, autora de “Antes de ontem” e “No dia que matei meu pai fazia sol”, por sua vez, destacou como a falta de água e o cenário de escassez do semiárido da caatinga compõem a narrativa de sua escrita. Embora distinta da imagem viva do rio, a memória afetiva da autora acerca dessa cena constrói a textura dos sentimentos contidos em suas obras.

Pela primeira vez em Mucugê para um evento literário, Vitória evidenciou a alegria de compor a programação da Fligê e celebrou o encontro com as colegas de mesa. “O título da atividade nos convida a perceber o local que ocupamos no curso deste rio e onde nossas histórias se encontram. É importante termos este espaço para debater a produção literária e seus diferentes cenários. A literatura pode ser, sim, a condutora de nossas águas”, disse Vitória.

Para encerrar a conversa, a professora e escritora Magna Cerqueira defendeu a literatura como um direito humano básico. Ex-doméstica, a educadora reconhece o papel transformador da leitura e da escrita por meio da educação. Magna promoveu um momento interativo com a plateia a partir da leitura guiada de um trecho do seu livro “O menino da mata – Parte 1”, um livro infantojuvenil com reflexões filosóficas a respeito da brevidade da vida.

Autora de outras obras, como “Vidas Rurais”, indicado ao Prêmio Jabuti em 2023, Magna associou a mesa a uma experiência de reconexão com suas origens. “Este é um tema que me atravessa profundamente e esta mesa dialogou bastante com a minha ancestralidade. É muito interessante perceber o poder que vem da natureza, das águas, das matas e de como isso faz sentido na vida da gente”, contou Magna.

Em um último ato, as participantes e a mediadora reforçaram a importância do papel da mulher na literatura e a força da escrita como uma forma de ativismo e de resgate da humanidade. A Fligê, mais uma vez, se consolidou como um espaço vital para a valorização das vozes literárias que trazem a riqueza e a diversidade da natureza brasileira para o centro de suas narrativas.

 

Repórter: Pedro Novaes

Fotógrafo: Igor Chaves 

 

Este projeto foi contemplado no Edital de Apoio às Festas, Feiras e Festivais Literários (n.º 01/2024), por meio do Programa Bahia Literária, com o apoio do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Educação e da Secretaria de Cultura, via Fundação Pedro Calmon.
O edital é direcionado à modalidade de fomento à execução de ações culturais, conforme o Decreto Federal n.º 11.453/2023, a Política Estadual de Cultura (Lei n.º 12.365/2011), o Plano Estadual de Cultura (Lei n.º 13.193/2014), o Plano Estadual de Educação da Bahia (Lei n.º 13.559/2016) e a Lei Federal n.º 14.133/2021. O projeto conta ainda com o apoio cultural do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), vinculado à Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por meio da Rádio Educadora FM e da TVE Bahia.

 


Galeria de Fotos