Literatura e Música
A letra e o som são encadeados ritmos produzidos pela inesgotável capacidade humana de constituir autorias. Como esferas autônomas da arte, a literatura e a música tecem enredos em romances, ritmizam poéticas em inúmeras e diversas produções autorais, acionam elaborações conceituais em sobreposições de palavras e seus respectivos sons de letras e formas, provocando criações singulares que atravessam toda a história da humanidade.
Músicas inspiradas em livros, poemas que são canções, personagens que convocam a sua música, cenas que são lidas no ritmo incessante dos sons das palavras, pausas e silêncios que se impõem ao leitor para a produção de sentidos do texto. Como produções artísticas autônomas, Literatura e Música são esferas da criação humana que, quando tomadas em dimensão e conjunto, corroboram para interpretar acontecimentos culturais e conferir densidade à forma, estilo, volume, ritmo e perspectiva ao processos autorais.
Nosso alarme existencial sempre aciona a arte. Nesta edição da Fligê, será acionada a Literatura e a presença de manifestações musicais no seu entorno poético e ficcional. É a composição dos enredos para produzir som e sentido e aproximar o livro de seu público leitor.
A corda do instrumento é o ritmo da leitura nas linhas de cada página a ser sorvida, de cada som extraído da obra literária. Se a harmonia for o objetivo, antes a desconstrução e êxtase das personagens serão as matérias para interpretar-se e interpretar o mundo.
Em toda singularidade humana há uma composição universal, uma sinfônica de sons que a literatura recuperou e transformou no objeto cultural livro. Esta sexta edição da Fligê, é isso: um livro ritmado, para que se absorva os desafinamentos do coração, porque “ se você disser que eu desafino, amor, saiba que em mim isso provoca imensa dor”, mas o acorde é impresso em “verde anil, amarelo, cor de rosa e carvão.”
Extrair, imprimir, recuperar, sentir o som da palavra escrita nas malhas e costuras da ficção literária para emergir curas para as asperezas do mundo, dourar as palavras para perspectivar os tons necessários do transgredir, imprimir dissonâncias quando a negação do dizer intenta a dignidade: são os motes que a literatura e a música, coirmãs de formação estética, nos ofertam para aliançar e lançar mundos/livros ao mundo.
No seu mote de palavra, em Poeta e Realidade + (O Homem), no livro Inquisitorial(1996), declama::
Faço poemas como quem ganha:
olhos em elmos, face tranquila.
Da dor, do mundo, da guerra,
no desespero de sua possibilidade,
construo meu corpo entre barro e sabre,
nasço minha vida ao curso da vida.
A 6ª Edição da Fligê é patrocinada pelo Governo do estado da Bahia, por meio de emendas parlamentares vinculadas, com parcerias institucionais e de coletivos culturais da região, com apoio do poder público local e ampla participação dos estudantes da educação básica! Formar público leitor e oportunizar ao escritor esse encontro é a marca da trajetória da Fligê, que, nesta 6ª Edição já acolhe em sua programação “as crias” dos anos anteriores.
Em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz! Viva, a Fligê! Vida longa à Fligê.
Ester Figueiredo
Curadora
Mucugê, agosto 2023
