“Tramas revolucionárias: a arte (re) existe”, expografia do artista plástico Silvio Jessé, desenvolvida em parceria com os músicos Dirlei Bonfim e Luís Rogério, foi uma das atrações mais visitadas nesta sexta edição da Feira Literária de Mucugê – Fligê.
Esculturas, quadros, gravuras, música e vídeo, entrelaçados, conduziam o público à reflexão sobre as agruras vividas pelo Brasil durante o período pandêmico da covid-19, ressaltando a importância da cultura e da arte na resistência e sobrevivência a tempos sombrios como esses.
Silvio nos conta que a produção artística durante a reclusão da pandemia foi mais do que o seu alento, foi um ponto de equilíbrio para a saúde do corpo e da mente, quando, lá fora, eram observados tantos perigos e ameaças outrora esquecidos no passado, como o autoritarismo, o negacionismo científico e, até mesmo, o flerte fascista dos governantes no poder naquele momento.
“Essa produção foi toda feita durante a pandemia. Foi uma das fugas que eu tive, de achar até um ponto de equilíbrio para poder trabalhar e deixar a cabeça um pouco mais tranquila. Eu resolvi pintar os acontecimentos e comecei a trabalhar técnicas que eu já não estava mais acostumado a usar como grafite, aquarela, bico de pena e outras experiências que eu tinha vontade de fazer e nunca tinha tempo”, nos conta Jessé.
“Primeiro com as críticas, né? Com aquele juízo político do que estava acontecendo no Brasil, como as atitudes impensadas do ex-presidente, o negacionismo, o racismo, aquela coisa de volta da ditadura”, ele completa.
A exposição, sob curadoria de Pâmela Dantas, reúne 150 peças do artista dentre as mais de 950 que ele produziu neste período. A exposição foi pensada para completa imersão do público, que passeia pelas obras como se adentrasse a uma casa, convidado a visitar aqueles cômodos repletos de imagens marcantes, de figuras importantes para a cultura brasileira, ao som de canções da nossa música popular.
“Fui fazendo viagem pelo tempo, buscando personagens que eu gosto, que têm vínculo com política, com lutas, com ideologia, que tenha deixado um bom legado na política, na cultura, na literatura, nas artes”, explica Silvio.
As tramas revolucionárias são fios de arame farpado e barbante que traçavam o caminho por toda a exposição, onde os visitantes se deparavam com quatro impressionantes esculturas do artista.
“A gente produziu quatro peças em arame farpado, uma delas foi esse pensador, inspirado no pensador de (Auguste) Rodin, mas o meu é um pensador no divã, em depressão, triste. A imagem do músico, a imagem do pau-de-arara, que é uma das mais fortes”, destaca.
Além da Fligê, Silvio Jessé já tem planos para levar a exposição a outros lugares do Brasil e, também, do mundo, como Argentina, Uruguai, Chile, Cuba, Portugal e Espanha.
Casa Parceira – O ateliê do artista foi a casa parceira da Fligê, local onde aconteceram inúmeros eventos como lançamento de livros, bate papo com autores, rodas de conversas e palestras. Foi lugar de encontro, de descontração e muito aprendizado.
📚🎶 A Fligê – Literatura e Música, realizada entre os dias 16 a 20 de agosto em Mucugê, na Chapada Diamantina, Bahia, é patrocinada pelo Governo do Estado da Bahia, por meio de emendas parlamentares vinculadas, com parcerias institucionais, de coletivos culturais da região e com apoio do poder público local.
Texto: Débora Silveira
Fotos: Thiago Gama