“Eu não vim até aqui pra desistir agora”. O papo com as escritoras Noemi Jaffe e Sara Rebeca Kersley lembrou esta música à jovem Diana, que estava entre o público do Centro Cultural na tarde de sábado (17) da Fligê. As duas escritoras foram convidadas para falar sobre gramáticas poéticas da linguagem em escritas de exílio, memórias e reinvenção da palavra.
“Ser mulher e ser escritora é ser exilada dentro do seu próprio país”, afirmou Noemi Jaffe, que também é crítica literária e professora. “Um lugar que está dando lugar e voz é muito legal. É assim, desta forma, que a gente tenta combater”, disse sobre a proposta da Fligê. “A gente precisa voltar a acreditar na liberdade, que a gente está perdendo”, aconselhou Noemi.
Apresentada como a arqueóloga da palavra, em seu mais recente trabalho, “Não está mais aqui quem falou”, Noemi constrói uma narrativa sobre a memória, a literatura e a linguagem. Para ela, “a literatura precisa criar no leitor a sensação de que algo está fora do lugar – de que ele está fora do lugar”.
Ao dividir suas experiências literárias, as escritoras narraram barreiras do mercado editorial e caminhos a serem seguidos, como a autopublicação e a tomada de iniciativa que valorize, em primeiro lugar, a escrita e a palavra.
Sara, que também é tradutora, editora e livreira – uma das coordenadoras da Livraria Boto-cor-de-rosa e do selo editorial paraLeLo13S, reafirmou o poder da literatura para os dias atuais. “Com certeza deve-se acreditar nos sonhos, nossas obras dialogam muito com o contemporâneo e com o que está acontecendo”, afirmou. Ela também elogiou a programação e adorou as possibilidades de encontro que vivenciou.
“Maravilhosa a programação da Fligê. Descobri vários escritores que não conhecia, descobrindo, portanto, novas perspectivas. Foi uma oportunidade de novos diálogos e novas trocas literárias”, contou. E revelou uma das suas utopias: “Ah… se todo mundo lesse poesia!”
Texto: Ailton Fernandes | Fotos: Vinícius Brito