A conversa foi entre amigos. Os autores Saulo Dourado e Breno Fernandes se conhecem há mais de vinte anos. Com muito bom humor, com muitos causos e anedotas do interior, os escritores baianos contaram para o público presente na Casa ConVerso suas experiências literárias, o descobrir da leitura e a transição para a escrita de livros no bate-papo do sábado (17) da Fligê.
Ambos nasceram no interior da Bahia – Saulo em Irecê, e Breno em Riacho de Santana – e afirmam que suas experiências nestas cidades são um infindável mundo de inspirações para as suas obras. “Quem nasce no interior já nasce com umas dez histórias de vantagem”, brinca Saulo.
Breno lembra que, como menino vivendo em meio ao sertão baiano, muitas vezes, não conseguia se identificar com as histórias contadas nos livros ou vistas nos filmes da TV e, por isso, o seu despertar para a leitura foi mais tardio.
“Quando eu era criança, eu tinha uma ideia que o mundo dos livros não era o mundo da minha realidade e que era como se houvesse duas categorias de história. Eu não imaginava o causo como um gênero narrativo. Causo era quase como uma história menor. Durante muito tempo, eu não tinha uma relação com o livro para além da escola”.
E foi ao se descobrir enquanto leitor que ele também se descobriu escritor.
“Foi lendo os livros da coleção Vaga-Lume que eu descobri que meu cotidiano cabia nos livros. E, aí, já imediatamente, eu desenvolvi uma relação de amor pelos livros, que foi ao mesmo tempo de leitura e de escrita. Eu pensei, se eu estou lendo e vendo meu cotidiano aqui, eu posso falar também”, conta Breno.
Saulo também diz que quando jovem não gostava da leitura e foi a literatura fantástica que despertou seu interesse.
“Só tempos depois é que eu fui desconfiar que, de algum modo, aquilo fez sentido para mim porque foi esse o mundo, na verdade, que eu vi dos causos de terror, das figuras folclóricas contadas no interior, como o lobisomem”.
E assim como os autores foram influenciados por nomes como Stephen King, Gabriel García Marques e tantos outros, eles também passaram a influenciar o despertar da literatura em novos leitores, como a Raquel Lins, que estava presente no bate-papo.
“Eu fazia a sexta série do ensino fundamental e um dos livros obrigatórios do currículo escolar era ‘Mil: a primeira missão’, que é um livro do Breno [Fernandes]. Logo depois, eu comprei ‘O mistério da casa da colina’, também dele. E foram estes os primeiros livros que me fizeram gostar de ler”, conta ele, que hoje é estudante de letras da Uesb.
Saulo Dourado lança na Fligê o livro “O Borbulho do gênio” e Breno Fernandes, “A mão do poeta”, ambos sobre Castro Alves, homenageado da Feira neste ano.
Texto: Débora Silveira | Fotos: Karen Almeida