A batida do hip-hop, a mistura do rap com MPB e o eletrônico fizeram o público da quarta edição da Feira Literária de Mucugê, se render ao som impactante e as fortes mensagens transmitidas pela cantora Larissa Luz, no show “Trovão”, no terceiro dia da Fligê, no sábado (17).
Movida pela necessidade de se posicionar contra o preconceito que existe no país, Larissa levou para o palco da Fligê sua conexão com ritos das religiões de matriz africana, o despudor e empoderamento da mulher, principalmente a mulher preta, evocando na música e nas palavras, o respeito e a representatividade.
“Eu escolhi fazer da minha arte ferramenta política, percebendo o impacto do racismo e tudo o que ele causou em nossa estrutura. Quando eu vejo um evento que traz literatura, escritores, ativistas, pensadores e pessoas que estão conectadas com esse movimento de usar a cultura para transformar politicamente e socialmente nosso meio, eu me identifico e fico muito honrada de poder trazer um disco que eu fiz pensando em ancestralidade, em falar da nossa cultura que fomos distanciados, então tem tudo a ver, foi um casamento bonito, um encontro mágico Larissa Luz e Fligê”, comemora.
A interação com o público da Chapada Diamantina presente em Mucugê e a troca de energia com os visitantes se deu de forma intensa e natural. “O show foi formidável, Larissa é uma artista completa! Vim de Vitória da Conquista pelas minhas filhas que adoram o trabalho, a arte dela e, é um orgulho para mim saber que elas têm uma artista como Larissa Luz como referência”, revelou o comunicador Carlos Nascimento.
Para a estudante Lívia Santos, moradora de Mucugê, o que mais chamou a atenção foram as mensagens de Larissa durante o show. “Eu amei quando ela disse que precisamos parar de discriminar o negro, o nordestino, as pessoas trans, que devemos respeitar o povo brasileiro”.
Marcado pela potência das batidas, letras de resistência, ritmo e performance dançantes, o show revela-se numa perspectiva atual, crítica e afrofuturista, dialogando dessa forma, com a proposta da Feira Literária de Mucugê que abraça a temática da narrativa abolicionista do poeta Castro Alves.
Formada em Letras, com mãe professora de Literatura, ela conta que a palavra cura, modifica e é capaz de ressignificar. “É muito importante a gente ter espaço e possibilidade de falar sobre as nossas histórias para que uma nova geração que está vindo escute essas histórias e entenda que outras histórias existem, pois, nossas histórias foram apagadas e silenciadas durante muito tempo. Nossos herois e heroínas foram invisibilizadas, então, meu papel como artista é trazer isso à tona e transformar isso, trazendo nossos personagens e histórias para superfície, e fazer essa galera jovem que está na Feira se vê, se enxergar e se identificar”.
Personalidade, resistência e enfrentamento são palavras que podem definir a cantora e o show de Larissa Luz. Compositora e atriz baiana, que viveu Elza Soares no teatro, Larissa continua levando luz com seus trabalhos autorais que conversa com o passado e o futuro, sem perder a identidade.
“Obrigada pela troca e sintonia. Fiquem com o sentido das palavras acreditar, confiar, agradecer. A gente é de rocha! Quem disse que a gente é minoria? Não daremos nem mais um passo atrás”, declarou a artista ao final da apresentação.
Texto: Joana Rocha | Fotos: Ailton Fernandes