O fantástico na literatura ficcional é tema de conversa na Fligê

O último dia da Fligê, neste domingo (18), começou com muito mistério e histórias fantásticas contadas pelos escritores baianos Frankiln Carvalho e Breno Fernandes, na mesa de conversa “Matérias de escrita: mistério, ficção e encantamentos”. 

Franklin, que foi vencedor do prêmio SESC de literatura em 2016 com o seu romance “Céus e terras”, se assume como estudioso e pesquisador da morte, do ocultismo e especialista em cemitérios. Ele conta que acontecimentos da sua infância e a vida no interior da Bahia, em Araci, cidade onde nasceu, o influenciaram nesse gosto peculiar que também é matéria da sua literatura. 

“Eu fui uma criança assustada. Eu tomei muitos sustos quando era menino. Eu cresci numa cidade que era antiga, que tinha casas muito velhas, grandes e mal iluminadas. No interior, a casa é mais escura, o telhado é fechado, as janelas são de madeira, as ruas também eram cheias de lendas, cheias de histórias. Isso me marcou de alguma forma”, diz. 

“Parece que não há escuro mais escuro que o da casa que a gente morou na infância, não é mesmo?”, brinca Breno Fernandes, que também fala das suas experiências sobre assombrações, mitos e causos ouvidos na infância de cidade pequena, numa conversa divertida, apesar do tema. 

“Sim. Os fantasmas que nos assustam no interior não nos acompanham na cidade grande, que as janelas são de vidro e as ruas têm muitas luzes”, responde de volta Carvalho, tirando risos da plateia. 

Para Fernandes, o fantasmagórico é parte integrante da estética do sertão e do interior e participar da Fligê para falar sobre isso é mais que especial. 

“Vir na Fligê, uma feira literária no interior da Bahia, é como encontrar o meu público perfeito, é falar para as pessoas que têm as mesmas vivências que eu, que beberam dessas fantasias como eu”, afirma ele.

Mas o seu livro “A mão do poeta” traz o realismo mágico literário para o ambiente da capital baiana, Salvador, reunindo contos que se passam no Dique do Tororó, na Igreja do Bonfim, no Farol da Barra e na Praça Castro Alves. 

“É um livro de contos que nasceu inspirado justamente no Castro Alves, que é o homenageado da Fligê, e também em uma crônica escrita por um amigo meu, que relatava a Praça Castro Alves, a praça do povo, abandonada e como as pessoas não paravam mais ali. Então, meio que intuitivamente, quase que como tentando encontrar na literatura a solução para reencantar e encher a praça de gente de novo; eu escrevi esse conto, que depois virou o livro”, explica. 

E assim como “A mão do poeta” reencanta a Praça Castro Alves, a Fligê encanta novamente Mucugê em sua 4ª edição. 

Texto: Débora Silveira | Fotos: Thiago Gama


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