Na noite do terceiro dia de Fligê 2019, o coreto da Praça dos Garimpeiros se transformou em um ringue, palco da batalha de versos do “Slam Insubmisso”, que proporcionou às mulheres negras a oportunidade de declamar poesias autorais utilizando apenas a voz e o corpo.
No comando do microfone, Negafya – a primeira “slammer” representante nacional do Nordeste nas competições de Slam pelo Brasil – chamava as manas para declamar poesias autorais de até três minutos, numa competição cheia de emoção, reafirmação e feminismo. A artista abriu a noite prometendo uma “poesia marginal que arrebata a alma” e incentivava cada participante com gritos de guerra, enquanto a plateia recebia com empolgação as rimas de denúncia e indignação da escritora.
O Slam é uma competição de versos que chegou no Brasil há apenas 10 anos, mas já tem um papel fundamental na inclusão de jovens negros na realidade da poesia falada, pois abre espaço e contribui para a descoberta de jovens poetas. Com uma dinâmica simples, pessoas da plateia são escolhidas para serem júri e dar as notas a cada apresentação. Aqui na Fligê, cinco jovens mulheres apresentaram seus textos. “A minha alma grita por ‘bom dia’, para negro, branco e todas as etnias”, começou a competidora Luiza Eduarda, 19, que ganhou nota 10 de cada uma das juradas, ao emocionar o público com seu poema sobre o desejo de conquistar a igualdade.
Como defensora da presença das mulheres negras na arte literária, Negafya falou sobre a importância de feiras e espaços literários que abracem as competições de Slam. “Estamos buscando os espaços para apresentar nossa arte, por isso agradecemos à Fligê 2019 por nos dar essa oportunidade de trazer essa nova visualização do mundo poético, pois o slam é recente e traz essa novidade e esse contexto de integração para os jovens da periferia”, relatou a artista.
A discotecagem foi feita pela DJ Nai Kiese.
O baile “Slam Insubmisso” foi uma atividade do coletivo Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras, grupo de mulheres que vem construindo, desde o ano de 2017, um caminho de enfrentamento ao racismo e sexismo, contribuindo com o empoderamento de mulheres negras, na cidade de Salvador, através da literatura negra de mulheres. Dentre as principais motivações do grupo, pretende-se fomentar a circulação e divulgação de produções de/sobre a literatura negra de mulheres no Brasil.
Texto: Tamyres Lenes | Fotos: Vinícius Brito