Fuxico Poético apresenta sentimentos do sertão

“Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!”

ALVES, C., Espumas Flutuantes, 1870.

Declamando esses versos em homenagem à Castro Alves, o Fuxico Poético subiu ao palco para sua primeira participação na Feira Literária de Mucugê. O canto de Mano Gavazza marcava o início do momento da Palavra Cantada.   

O grupo é composto por pedacinhos da Bahia. Setúval e Mano Gavazza, de Feira de Santana, Geise Mascarenhas, de Salvador, e Lucas Galvão, de Santo Antônio de Jesus. Animados com a participação na Feira, afirmaram que “a Fligê já é um evento consolidado na Bahia e no município”, agradecendo a coordenação pela confiança que deram a eles de mostrar o poder da palavra e da música no processo de transformação humana. 

Entre os sentimentos dos poetas, o Fuxico do sertão, a flauta e o violão. Os poemas resgatavam as memórias da infância de quem os declamava, na sensibilidade que tocava o público, falavam de suas origens. A violência e a falta de amor também preenchiam as entrelinhas de cada poema, e como um grito de encorajamento cantavam “Pra não dizer que não falei das flores”, música do Geraldo Vandré que foi símbolo de resistência no período da ditadura militar. 

A apresentação que chamou a atenção de pessoas de todas as idades, conquistou o coração de Marlete. A professora de 46 anos, diz ter ficado emocionada com a criatividade do grupo e afirmou que o encanto que ela tem pela cultura brasileira e pela energia da Chapada Diamantina a trouxe de Brumado para participar pela primeira vez da Fligê.  

O malabarismo feito com a música e a poesia completou-se quando a participação foi estendida ao público. A cestinha de fuxico passou pelas mãos de algumas pessoas que pegaram os poemas e foram convidadas a declamá-los. Quando Ana Rafaela de sete anos declamou o “Lírio da poesia” de Manuel de Barros, a emoção tomou conta de todos, o que para Marlete, tornou a apresentação uma das melhores da Feira. “Presenciar uma criança declamando poesia, foi maravilhoso! Foi até agora, uma das melhores apresentações da Feira”, afirmou.

“Eu fiquei emocionada!”, foi assim que mãe da pequena Ana resumiu o momento. Fabiana Rodrigues é de Mucugê e diz amar a poesia que a Fligê traz para a cidade, ficou tão tocada com a apresentação do grupo que lhe faltaram palavras.

A proposta, segundo Lucas Galvão, era usar das palavras de Maria Bethânia, “entrar no palco em estado de poesia” e falar do grande poeta que foi Castro Alves. Os gritos e aplausos indicavam o fim de um espetáculo que transcendeu o seu estado de poesia e atingiu a todos que assistiam. 

Texto: Raquel Lemos | Fotos: Ailton Fernandes


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