Logo pela manhã o grito de “Atenção! Vai começar o espetáculo” ecoou pelas ruas do centro de Mucugê. O terceiro dia da Fligê 2019 começou com teatro, poesia e literatura na Fligêzinha. Era a apresentação da peça “Cecéu, poeta do céu”.
Com os olhinhos atentos a cada movimento, as crianças da Fligêzinha se sentaram sobre esteiras de palha e apreciaram a encenação produzida e apresentada pelo núcleo da CazAzul Teatro Escola, neste sábado (17). O espaço ficou lotado e a sintonia do público com o tema apresentado era notável.
“Cecéu, poeta do Céu”foi inspirada no livro de mesmo nome da autora castro-alvense Adelice Souza, que estava no evento e conversou com as crianças sobre sua paixão pelo poeta dos escravos.
O livro de Adelice foi transformado em peça pela professora Adriana Amorim. No elenco, os atores Yarle Ramalho, Hannah Abner e Joanne Vale encheram de ludicidade trechos de “O Navio Negreiro”, o emblemático poema de nosso homenageado, enquanto passavam uma mensagem de respeito às diferenças e liberdade. Foi assim que o grupo provou que não é difícil apresentar os grandes clássicos da literatura brasileira para as crianças.
Depois da peça, pais, professores e crianças puderam bater um papo com os atores e com Adelice. “Você é escritora desde pequena?”, “como você começou a escrever”, perguntavam as crianças à autora que respondia sorridente as indagações dos pequenos. “Teatro é lugar de transformar”, disse sobre a oportunidade de apresentar poemas tão importantes para a história e identidade brasileira em forma de peça infantil.
Além da conversa descontraída, Adelice proporcionou uma verdadeira aula sobre a vida e obra de Castro Alves e comentou sobre a importância de um espaço tão lúdico para criar nas crianças o hábito da leitura.
Era a primeira vez da autora na Fligê, mas ela disse já considerar Mucugê a cidade mais linda do interior da Bahia e acredita que o tema deste ano é fundamental para a sociedade brasileira, mas principalmente para a identidade baiana. “Castro Alves é um clássico eterno. Ele levantou com beleza e arte um discurso em defesa dos negros. A Fligê acertou não só por homenagear um baiano, mas em tratar de temas que são relevantes no mundo inteiro. Viva a Fligê”, disse.
Apesar dos temas sérios e as palavras que já não se ouvem no dia a dia, a poesia de Castro Alves parece ter conquistado as crianças da Fligezinha que demostraram saber quem foi poeta e do que se trata sua obra. André Viana é procurador e mora em Vitória da Conquista. Ele trouxe a filha pela primeira vez à Feira Literária e aprovou a proposta do evento: “é uma oportunidade muito legal das crianças terem contato com Castro Alves em uma atmosfera boa para conversar e interagir com a literatura. O contato com o ator é importante para que as crianças vejam que eles são pessoas comuns, que passaram por um processo de formação, que estudaram e tudo mais. Eu acho que assim eles podem entender melhor esse universo”, afirmou.
Texto: Tamyres Lenes | Fotos: Thiago Gama e Paula Fróes