Acidez, beleza e celebração da arte permearam o lançamento de livros na Fligê

Cinco livros com temas diferentes ligados pela linha tênue e potente da política, cultura e identidade baiana foram lançados na tarde do último sábado (17), na Fligê 2019. O momento foi rico e o cenário acolhedor do Ateliê Silvio Jessé ficou ainda mais inspirador. Além de leituras de trechos dos lançamentos, teve música, poesia a apresentação teatral.

Os livros “A última flor da noite” de Aderaldo Almeida, “Antônio Bukorô” de Domingos Ailton, “Democracia Golpeada” de Luis Rogério Cosme, “Levante, o sistema caiu” de Daniel Lisboa e “Alquimia das Palavras” de Dirlêi Bonfim foram os protagonistas da tarde.

O primeiro a apresentar sua literatura foi o advogado e político baiano Adroaldo Almeida, de Itororó. Dessa vez, ele trouxe para a Fligê o romance “A última flor da terra”. A história relaciona narrativas bíblicas com a cultura da região cacaueira da Bahia, afinal, como ele mesmo pontuou “toda obra é autorreferente”.

Após a apresentação do ramance, foi a vez de Domingos Ailton colocar em pauta a perseguição dos terreiros de candomblé no interior da Bahia, com a obra “Antônio Burokô“. Para Ailton, seu livro tem a intenção de registrar um pouco da história dos rituais afro-brasileiros, que possuem uma cultura predominantemente oral.

A sessão ainda contou com a performance do ator jequieense Marcos Duarte, que ao som do pandeiro apresentou “A chegada de lampião no inferno, de José Pacheco. O público aplaudiu, gargalhou e se encantou com o momento. Mas logo em seguida a poesia ácida de Luis Rogério Gama ecoou no espaço trazendo à tona a realidade brasileira com “Democracia Golpeada”. O poema “Às seis horas da manhã”, lido pelo autor é pesado e duro, mas como salienta Gama, também é necessário: “é preciso se indignar com a estrutura desigual da sociedade brasileira, que gera novas formas de escravidão e mortalidade e adoecimento psicofísico da classe trabalhadora”, disse.

O autor acredita que sua poesia se liga à de Castro Alves nesse ponto. Indignar-se. Por isso, ele salientou a importância da Fligê 2019 como instrumento de valorização e disseminação da arte e da cultura: “A valorização da cultura é uma alternativa para nós escaparmos dessa crise do pensamento que estamos vivendo, acredito que nem a ciência nem o modelo educacional brasileiro conseguem fazer isso, mas a arte tem uma capacidade de tocar as pessoas em suas sensibilidades e fazer como que elas reflitam seu lugar no mundo, tornando-se protagonistas das transformações que nós esperamos, e a Fligê proporciona isso. Aqui se celebra a arte”.

Quem também apresentou um livro crítico foi Daniel Lisboa. “Levante, o sistema caiu tem aparência densa. Um livro negro com frases de comando como “Vomite no mito” e “Fique para trás” em letras garrafais. A obra faz parte do projeto Lambes do Mal e como afirmou ironicamente o autor, “pode ser considerado um livro de conselhos”.

Por fim, a apresentação da obra de Dirlêi Bonfim trouxe beleza e musicalidade para a tarde. Músico, professor e poeta, Bonfim abriu seu momento agradecendo à Fligê por celebrar a vida através da literatura. Além do livro, o artista também apresentou seu CD “A Poesia Encantada” e encantou a todos com uma apresentação de voz e violão.

Larissa Vasconcelos foi assistir e pegar um autógrafo com o poeta. A professora e secretária de Educação do município de João Dourado veio em caravana com mais de 50 colegas para buscar inspiração e motivação na Fligê. “Valorizamos muito a literatura e é um privilégio poder contemplar essa Feira Literária, encontrar tantos escritores e ver a literatura emanada nessas pedras. Nosso objetivo é respirar um pouco de literatura para pudermos aplicar melhor nossas funções nas escolas do município. Foi um prazer poder escutar cada escritor”, relatou.

Com sessões de autógrafos e muitas fotos, os autores encerraram a tarde de poemas ácidos, narrativas fortes e celebração.

Texto: Tamyres Lenes | Fotos: Ailton Fernandes


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