A poesia e a estética em livros sobre um coronel e a Chapada

A trajetória de vida do lendário coronel da Chapada Diamantina e as belas paisagens da região voltaram à cena na Fligê, em dois livros independentes e inusitados pela forma dos registros: “Epopeia de Horácio de Matos – o coronel da Chapada”, de José Walter Pires, e “Marcas do tempo – trecho de uma expedição”, de Otoniel Fernandes e J. Santos. O primeiro é um cordel que narra em 300 estrofes e 36 capítulos a vida e a morte do líder sertanejo; o segundo resultou de uma simbiose entre desenhos do geógrafo Teodoro Sampaio, que inspiraram a pintura de Otoniel, fotografada por J. Santos e outros.

Ao convidar os leitores presentes no espaço do Ateliê Sílvio Jessé para conhecer a “Epopéia de Horácio de Matos”, José Walter Pires definiu a sua obra declaradamente apaixonada pelo líder sertanejo. “Não é um livro político, não trata de ideologia, nem questiona o poder dos coronéis. Tirei do coração da Chapada”, disse o autor sobre o cordel que narra episódios da trajetória do coronel da Chapada Diamantina no final do século XIX às três décadas iniciais do século XX. 

Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, o baiano José Walter Pires é escritor e poeta, e se define como um amante da literatura popular nordestina. É autor de vários títulos e livros publicados, participou de antologias e coletâneas e editou mais de 100 cordéis, sobre temas variados, incluindo parcerias com grandes poetas da Bahia e de outros estados.

Enquanto lia algumas das estrofes, o autor foi surpreendido pela chegada de duas figuras ligadas ao seu “herói”: a neta e a tataraneta de Horácio de Matos, Augucina Matos e Marina Mattos Bacelar Sousa. A segunda, uma menina de oito anos, foi logo se apresentando, posou para foto com o autor e falou da alegria de conhecer o livro.  “Meu tataravô é famoso mesmo e esse livro tá lindo!”, comentou sorridente.

PERSPECTIVA ARTÍSTICA – Uma abordagem da Chapada sob uma perspectiva mais artística, recheada de textos históricos produzidos a partir de ampla pesquisa realizada durante dois anos originaram o livro “Chapada Diamantina – trechos de uma expedição”, na definição de J. Santos, que divide a autoria da obra com Otoniel Fernandes. O texto é focado em trechos da Expedição de Theodoro Sampaio, no período de 1879/1880, com reprodução de desenhos do geógrafo, os mesmos que inspiraram telas do pintor Otoniel Fernandes; telas estas que foram fotografadas por J. Santos, Alex Uchoa e Eduardo Peixoto. 

Ao apresentar o livro, J. Santos falou um pouco do coautor, Otoniel, um artista cearense que no início dos anos 90 veio para a Bahia buscar inspiração para suas telas. Ele próprio, J. Santos é baiano de Salvador, fotógrafo que se define como um profissional que “gosta de pegar a estrada para registrar paisagens, pessoas e lugares”. Além de “Chapada Diamantina – trechos de uma expedição”, ele assina exposições e curadorias e já publicou os livros  “Caboclo – marcas do tempo”; e “Viagem pitoresca pelo Rio São Francisco e Rio Tocantins – uma viagem ilustrada”.

Texto: Joana D’Arck | Fotos: Thiago Gama


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