A influência de Castro Alves na produção literária, poética e teatral

Castro Alves entrou para a história da literatura como o poeta dos escravos, da liberdade e do povo, maior vulto do romantismo brasileiro, mas muitos aspectos da sua obra e da sua vida pessoal são desconhecidos do grande público, assim como a sua influência na produção literária baiana, seja ela nos gêneros romance, poesia ou teatro.

“Talvez quem não tenha acesso a uma biografia do poeta entenda Castro Alves como um cara mais velho, que tenha vivido mais tempo ou que a produção dele chegue de uma forma um tanto quanto careta para as novas gerações”, diz o dramaturgo baiano e diretor premiado, Edvard Passos, um dos participantes da mesa de conversa “Quem escreve e se afeta em Castro Alves”, que ocorreu no início da tarde desta sexta-feira (16), segundo dia da Fligê.

E foi para desmitificar essa imagem descrita e trazer novos e curiosos aspectos sobre a vida e obra de Castro Alves, homenageado da feira nesta edição de 2019, que Edvard se juntou a escritora e dramaturga Adelice Souza e ao escritor e professor Saulo Dourado, no Centro Cultural. 

Os três contaram aos participantes da conversa de que forma Castro Alves entrou em suas vidas e influenciou as suas produções literárias. 

Adelice Souza, que lança o livro infanto-juvenil “Cecéu, o poeta do céu”, cuja história narra o encantamento dos personagens Maria e Irineu pela obra de Castro Alves ao descobrirem o poeta após uma lição do colégio e como a poesia dele os aproxima e dá início a uma paixão. 

“Como falar para criança sobre esse poeta romântico, que tem palavras difíceis? Eu pensei: vou começar a falar da mesma forma que ele me afetou quando também era criança, jovenzinha, começando a adolescência. Vou falar pelo viés do amor”, conta a escritora, que nasceu na cidade de Castro Alves na Bahia e que, desde cedo, foi influenciada por ele. 

“Acabou que ter escolhido essa vida, a de escritora e diretora de teatro, tem muito de Castro Alves, pois a literatura e o teatro foram suas duas grandes paixões e eu, que desde pequenininha ouvia os seus poemas e recitava os seus versos, acabei sendo afetada por eles no meu caminho na vida adulta”. 

Saulo Dourado, por sua vez, escreveu o livro “O borbulhar do gênio”, que relata a aproximação entre Castro Alves e Ruy Barbosa.

“Ao estudar Castro Alves eu descobri que ele e Ruy Barbosa foram colegas na Faculdade de Direito do Recife e desde lá, suas vidas se entrelaçam em diversos momentos das suas histórias, então, posso dizer que muito do que está no livro pode ter acontecido, sim”, brinca ele sobre os diálogos da sua obra sobre o relacionamento entre os dois escritores baianos.

Para Saulo, “Castro Alves foi um romântico, nos dois sentidos da palavra, o de fazer parte do romantismo que ele ali bebeu, mas também por cantar amores. Ele era um romântico baiano não era aquela pessoa sombria, aquela pessoa sempre reclamando da vida, do frio, como outros autores da sua época”.

Edvard Passos conta que sua relação com o poeta do povo foi meio “conturbada”. “Ele me perseguia ao longo da minha vida, por mais que eu me esquivasse”, diz ele tirando risos da plateia. 

Quando criança era chamado de Castro Alves por seu tio-avô, por achá-lo parecido com o escritor. Já na vida adulta, como ator, interpretou Castro Alves por diversas vezes. 

“Certo dia me chamaram para fazer o Castro Alves, no teatro Castro Alves”, enfatiza ele. “Aí, não teve jeito, eu comprei a biografia escrita pelo Alberto da Costa e Silva e foi assim que eu comecei a enxergar um Castro Alves que as pessoas não percebiam no geral, que eu fui entender o Castro Alves ativista, o cara da ação. A escrita de Castro Alves é para a ação. Ele é o cara da intervenção urbana, ele é o cara de aproveitar a aglomeração de pessoas e fazer irradiar os pensamentos que ele entende que são necessários para fazer a transformação da sociedade”. 

Texto: Débora Silveira | Fotos: Ailton Fernandes


Galeria de Fotos