Mulher, nordestina, voz potente. Saudando os orixás e reverenciando a ancestralidade africana, Rita Benneditto veio a Mucugê mostrar a força e a resistência de quem faz música com verdade no Brasil. Ela se apresentou no palco da Praça dos Garimpeiros ao lado dos parceiros Fred Ferreira e Eduardo Guerra, na noite de sábado, 18, da Fligê.
“Pra mim é de grande importância estar em Mucugê mostrando a minha arte e a minha resistência. Eu vivo isso por ser artista, ser artista no Brasil é uma resistência, é uma atitude de luta constante, infelizmente. Venho de uma condição de vida pobre e tive que resistir para mostrar a minha arte”, afirmou.
Acompanhada apenas por guitarra e bateria, Rita apresentou um repertório variado que passeia pela história cultural brasileira. “Meu repertório é sempre voltado para reverenciar o que é nosso, o que a gente tem, o que é rico, especialmente a cultura afrobrasileira, que é muito forte”, explicou. “Eu tenho essa coisa muito de raiz, sempre com essa pitada de pop, rock e tecnologia, bits e eletrônicos”, lembrou sobre as formatações eletrônicas que dá à sua música.
É d’Oxum, Mamãe Oxum, Oração ao Tempo foram algumas das músicas interpretadas por ela, em Benneditto Seja, nome que deu ao show, montado principalmente a partir do repertório do álbum Tecnomacumba, “divisor na minha carreira, que as pessoas tomam muito como referência”. Mas também incluiu Extra, de Gilberto Gil, e até Garçom, de Reginaldo Rossi.
Sobre a Fligê, a cantora afirmou: “uma feira de livros no sertão da Bahia é algo fantástico, fico muito feliz em sentir a vibração da energia, da cultura, da arte, da literatura, da música aqui nesse lugar. Essa fogueira que a gente está acendendo aqui com a Fligê não vai se apagar. Esse tipo de energia é o que mantém o povo brasileiro, a nossa história, nossa memória, e por toda a nossa riqueza, nós resistimos e permanecemos”.
“Todo lugar é uma oportunidade de conquistar pessoas, quero deixar uma ótima impressão e quero curtir essa energia toda”, resumiu. E parece que deu certo…
O professor Márcio Alves não conhecia o trabalho da cantora e saiu impressionado, ao término do show. “Eu não conhecia nem o ritmo nem a cantora, pra mim foi uma surpresa gratificante perceber uma pessoa do quilate artístico da Rita, cantando músicas que têm uma referência muito interessante do ponto de vista da religião e da ancestralidade, com uma leveza e uma construção empolgante. Super maravilhoso”, elogiou.
Texto: Ailton Fernandes | Fotos: Ailton Fernandes e Lari Carinhanha