O livro, a rua e o olhar do escritor independente

Conversa séria pode ser descontraída. E pode ser na rua e virar conversa de rua. Foi nessa sintonia que a literatura ganhou a rua na Fligê no bate-papo soltinho e irreverente, mas nem por isso menos reflexivo e crítico entre os escritores independentes Franciel Cruz e Núbia Bento Rodrigues. Debateram, neste sábado, 18, no Coreto literário da Praça do Garimpo sobre O livro e a rua: publicações independentes na encruzilhada.

Falando sério: num mercado literário em que as editoras preferem traduzir livros estrangeiros de renomados escritores para garantir sucesso de público e venda, os novos autores e, sobretudo, os nacionais, enfrentam enormes desafios para publicar suas obras, para vendê-las, mesmo em feiras literárias, onde também são ignorados. Esse é o ponto principal do bate-papo de Franciel Cruz e Núbia Rodrigues, que agradeceram o espaço que tiveram na Fligê.

Mesmo para falar de assunto sério o que não faltou foi irreverência e humor no bate-papo dos dois autores, que se apresentaram munidos de caixas de isopor, que denominaram de “Flisopor”, repletas de livros de suas autorias – Ingresia: chibanças e seiscentos demônhos, de Franciel Cruz, e Quem vigia o vigia, de Núbia Rodrigues. Usaram até megafone para chamar as pessoas para a sua atividade e ampliar a fala dos participantes que queriam perguntar.

A pequena e curiosa leitora presente, Sofia Coelho Porto, de 8 anos, se divertiu com a ideia do megafone e, sem cerimônia, usou o instrumento para questionar o escritor Franciel Cruz sobre do que trata seu livro. “Conto histórias sobre a rua, a cidade, que é onde a gente vive”, sintetizou ele.  Outro leitor, José Sinval definiu o livro do colega jornalista como “um convite ao leitor para muitas emoções e risos”, nas 90 crônicas de Ingresia, a maioria ambientada nas ruas da cidade de Salvador.

Ele respondeu também sobre sua motivação para lançar o livro e como fez para vencer os desafios, burlando o lugar comum de sofrer para conquistar o interesse de alguma editora. Insuflado por amigos admiradores dos textos que publicava em seu blog, que tem o mesmo nome do livro, Franciel Cruz lançou uma “vaquinha” virtual através do Facebook, que lhe garantiu a quantia necessária para editar e imprimir o seu “best-seller” , como se refere na brincadeira ao seu primeiro livro.

Núbia Bento Rodrigues é professora de antropologia da UFBa, mas resolveu virar escritora também. Quem vigia o vigia é o terceiro. Antes, lançou Sítio caipora e O roteirista personagem, pela editora Casa Amarela. “A gente veio para levantar a discussão no espaço público de como a literatura fica fechada nos espaços acadêmicos, das livrarias e das grandes editoras. Essas oportunidades que a gente encontra em feiras literárias, mesmo que de forma irreverente, são importantes para chamar a atenção para o desenvolvimento de políticas públicas para essa área de circulação de autores, principalmente de autores baianos”.

Texto: Joana D’Arck | Fotos: Lari Carinhanha


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