O Centro Cultural de Mucugê ficou lotado para a mesa de conversa Conceição Evaristo em laços de afetos. A presença e a história da escritora homenageada da Fligê fez o público se emocionar e mergulhar no universo da candidata a ocupar a cadeira de número 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Juntas no bate-papo sobre Conceição, as escritoras Lívia Natália, Laura Castro, Rita Queiroz e a mediadora Camila Moreno, sensibilizaram a todos ao compartilharem suas escrevivências, como mulheres que têm a arte de resistir.
Ao defender a presença de Conceição Evaristo como imortal da ABL, a escritora Lívia Natália foi reverenciada pelos ouvintes, cerca de 500 pessoas que lotaram o espaço e que compartilham desse mesmo desejo. “A Academia Brasileira de Letras está em dívida com o povo negro, principalmente com a mulher negra. Conceição Evaristo na ABL é um gesto de reparação com a literatura”, ponderou.
Durante as exposições, as escritoras leram trechos do livro Poemas da recordação e outros movimentos, de Conceição, para relatar as diferenças de experiências, como lembrou Rita Queiroz, ao dizer que foram poucas ou quase nenhuma as referências de escritores negros durante o tempo de escola e até mesmo na universidade.
Já a dificuldade da escritora Laura Castro, perpassou pela negativa que teve da possibilidade em querer conhecer sobre a cultura negra e sua origem indígena. “Eu vivi numa história de embranquecimento, onde me censuravam por querer saber a história da minha gente”.
Questionada sobre o envolvimento do público e o tema da conversa, Conceição Evaristo foi direta: “o grande público é de mulher e, que me desculpe os homens, mas palavra de mulher tem axé!” E acrescentou: “a gente percebe que na história de mulheres negras e na de pessoas que passam por processos de exclusão, por qualquer motivo que seja, apesar da dor há sempre esse posicionamento de resistência. E é essa capacidade de resistir que nos coloca aqui”.
A respeito da proposta e atividades da Fligê, que se dedica a circulação de ideias e a formação de pensamento crítico, Lívia Natália considera o evento como um gesto de reconhecimento e respeito pelo afeto à literatura que escreve.
Ansiosa em conhecer de perto as escritores que estuda na universidade, a discente de Letras, da Universidade Estadual da Bahia – Uneb, campus de Brumado, Jaine Pires saiu encantada com tudo que ouviu. “Estou aqui por essas mulheres guerreiras que vem o tempo todo lutando contra esse patriarcalismo”.
Emoção, resistência e recordação também marcam a gente que trabalha na Fligê. A você, leitor, espero que se sinta tocado por todo esse projeto de escrita a partir da nossa vivência, no coração da Chapada Diamantina. É muita escrevivência!
Texto: Joana Rocha | Fotos: Lari Carinhanha e Vinícius Brito