Em 2018, a Fligê homenageia a escritora mineira Conceição Evaristo.
Escritora que recupera, pela arte literária, o direito da escrita e da leitura, para populações desprovidas desse direito, como um direito humano que perspectiva e altera histórias de vidas. Nas suas palavras: “o que eu tenho pontuado é isso: é o direito da escrita e da leitura que o povo pede, que o povo demanda. É um direito de qualquer um, escrevendo ou não segundo as normas cultas da língua. É um direito que as pessoas também querem exercer”.
Nascida em um dia de domingo – 29 de dezembro de 1946, em Belo Horizonte (MG), Maria da Conceição Evaristo de Brito honra-se em afirmar que, mesmo em condições pouco favoráveis, cresceu rodeada por palavras, não de livros. E, essa filha de uma mãe lavadeira, tornou-se um testamento vivo de que a palavra resiste e insiste.
Na vida adulta conciliou os estudos do magistério com trabalhos domésticos, em um quarto de século de existência, diplomou-se professora. Mudou-se de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, e como concursada, aventurou-se a ingressar no curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Prosseguiu estudos, sendo doutora em Literatura Comparada.
Na década de 1980, entrou em contato com o Grupo Quilombo Hoje, onde estreou na literatura, em 1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros.
É escritora de projeção internacional, com livros traduzidos em outros idiomas e é candidata, primeira escritora negra, à Academia Brasileira de Letras. Suas obras, em especial o romance “Ponciá Vicêncio”, de 2003, abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. A marca de sua narrativa compõe o gênero escrevivência, novo formato de narrar a vida em topicalizações subjetivas e memorialísticas
Sua literatura traz profundas reflexões sobre o protagonismo feminino, coloca em destaque os debates de raça e de gênero, a ancestralidade, como extrapolação da religiosidade, as condições de subalternidade, recuperando seu contexto familiar, de mulheres negras, cozinheiras e lavadeiras da favela Pendura Saia, em Belo Horizonte, para a sua ficção. Essa matéria de vida, materializa a sua prosa e narrativa literária. O seu lugar de fala é o de mulher negra, de origem pobre!
Dentre seus livros publicados, destacam-se “Ponciá Vicêncio” (Ed. Maza), livro de estreia em 2003, lançado nos Estados Unidos e na França; e “Olhos D’água”, ganhador do prêmio Jabuti 2015 na categoria Contos e Crônicas. É, sem dúvida, a referência contemporânea e inspiração para autoras negras, aquela que deslocou a pobreza para o lugar da aprendizagem, ao denunciar e lutar contra ela, pela palavra!
Livros
Ponciá Vicêncio (2003)
Becos da Memória (2006)
Poemas da recordação e outros movimentos (2008)
Insubmissas lágrimas de mulheres (2011)
Olhos d’água (2014)
Histórias de leves enganos e parecenças (2016)