E você, um escravocrata ou um abolicionista mais moderno?

As histórias de vida de uma negra mulher capixaba que foi morar no Rio de Janeiro arrancaram muitas gargalhadas e, também, lágrimas de várias mulheres e homens que lotaram o Centro Cultural de Mucugê, para a sexta Rota de Palavra da Fligê 2018.

Poetisa, jornalista, cantora e atriz. Reconhecida pela sua literatura poética, além de seus espetáculos, recitais e workshops apresentados no Brasil e exterior. Com 17 livros publicados, considerada um dos maiores fenômenos da poesia brasileira. Essa é Elisa Lucinda dos Campos Gomes.

“Estou com o coração para a Fligê. Estar aqui é uma honra. Eu não sou uma mulher rica de dinheiro, mas eu sou uma colecionadora de tesouros e eu considero que conhecer pessoas assim como você ou conhecer uma cidade funcionando em torno da palavra, potentemente resistente, me dá esperança, me faz mais rica, dá mais valor à minha luta. Eu não estou só”, revelou sobre sua participação na Feira.

Cantando os versos de Brilho de beleza (“o negro segura a cabeça com a mão e chora / e chora, sentindo a falta do rei (…)”), a escritora iniciou sua conversa. O samba-reggae do compositor Negro Tenga tornou-se bandeira do movimento negro baiano, um hino de força e resistência que simboliza toda a luta diária do povo brasileiro.

Provocadora com as palavras, Elisa Lucinda disse que ao fazer uma festa em torno da palavra, a Fligê promove um ato político de resistência. “Eu vou incitar uma chamada na gente pra ver o quanto de responsabilidade nós temos na miséria que a gente combate”, completa.

Com relação ao protagonismo feminino proposto neste ano pela Fligê, em que inaugura um novo formato centrado na presença e/ou ausência feminina na literatura brasileira, Elisa Lucinda foi enfática: “temos que estar em todos os espaços porque ficamos sem voz por tanto tempo e, agora, é a nossa vez”.

Representando as centenas de pessoas que foram ouvi-la, o estudante universitário de Vitória da Conquista, Jhou Cardoso resumiu a emoção do momento: “Elisa Lucinda é um mulher sensacional! Ela deixou o público extasiado ao contar suas histórias de vida. Sou um grande fã dela e vim a Fligê para vê-la. Estou muito feliz, ela me surpreendeu bastante”.

Bom humor e reflexão deram o tom de toda a conversa. As expressões “terrorismo simbólico” e “vingança histórica” foram algumas das expressões que a escritora compartilhou com o público ao narrar a forma que encontrou para rebater, com palavras e conhecimento, o preconceito que sofreu, ora velado, ora escancarado, em muitas ocasiões da sua vida.

Texto: Joana Rocha | Fotos: Vinícius Brito 


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