Chico César: “literatura já é resistência”

Música e poesia se encontraram na segunda noite da Feira Literária de Mucugê. O cantor e compositor paraibano Chico César levou para o palco da Praça dos Garimpeiros o show Estado de poesia. “É um jeito de estar na vida, um jeito de ocupar o mundo. Viver em estado de poesia é ter o amor como uma bandeira, como sua marca revolucionária”, disse o cantor, no meio da apresentação, antes de iniciar a canção que dá nome ao show e ao seu disco mais recente.

No meio do povo que encheu a praça estava uma família completa. Vilma Araújo levou o marido, a mãe e até o filho para curtir o show. “Tem um ano e sete meses, é o primeiro show da vida dele. Amei o show, adorei, maravilhoso”, declarou. O que fez Vilma amar foi mais que o repertório variado de ritmos que o cantor apresentou, foi a sua espontaneidade no palco e seu discurso firme que está bastante ligado à proposta da Fligê.

Chico declamou versos da cultura popular, denunciou a violência contra a juventude negra, homenageou Marielle Franco, defendeu a democracia e cantou em tom de manifesto: Negão e Reis do agronegócio. As canções Onde estará o meu amor e Pensar em você foram acompanhadas pelo coro do público, assim como a popular Mama África.

Em entrevista, Chico César falou sobre a importância da literatura e o tema da feira. “No momento em que pouca gente lê, literatura já é resistência. Você tentar fomentar e estimular as pessoas a lerem, isso já é resistência. Muito do que nós somos tem muito há ver com o que nós lemos desde que éramos crianças, adolescentes. Fazer isso no interior da Bahia é estimulante para quem faz e para quem usufrui da literatura, e na verdade, quem faz literatura, só faz porque em vários momentos da vida bebeu nisso”, afirmou.

Pensando sobre quem escreve na atualidade e publica na internet, ele deixou um conselho. “É muito importante recorrer aos livros, cada vez mais nós temos menos pessoas lendo livros, muita gente diz que a internet cobre isso, mas na verdade a internet tem cada vez mais textos ruins, escritos por pessoas que não lêem livros, então é importante que as pessoas que lêem livros escrevam mais e coloquem seus textos na internet pra que as pessoas possam ter acesso a isso e, a partir dali, buscar nas bibliotecas, no dia-a-dia”.

Sobre a proposta literária da Fligê, o cantor elogiou. “Eu fico muito comovido e entusiasmado com um encontro de literatura no interior do Nordeste, que não busca os grandes êxitos comerciais da literatura, mas que busca aqueles lugares do questionamento, da discussão que a literatura traz, o que nem sempre a grande mídia e as grandes feiras buscam. É importante dizer que há um lugar na literatura que parece fora da realidade, mas na verdade nos mostra o que é a realidade”, definiu.

No camarim, o cantor recebeu a cantora Conceição Evaristo, homenageada pela Fligê.

Texto e fotos: Ailton Fernandes


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